A Filha do Norte

A Filha do Norte

2016 • 496 pages

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Era uma vez uma bruxa e uma jovem passeando pela floresta, procurando uma espécie de flor especial. Mas nem tudo são flores (desculpa, não consegui segurar o trocadilho) e durante uma tempestade as amigas se separam e, enquanto Meredith, a bruxa, volta para casa preocupada, Michelle, a jovem misteriosa, acaba por se embrenhar ainda mais na floresta e encontrar uma mansão. Mas quem mora numa mansão tão antiga [normalmente, a Fera e sua biblioteca maravilhosa]? Os irmãos Vergamini. Danton, Carl, Luka, Ethan, Christofer, Frank e Wolf. Sete homens que escondem muito mais do que apenas sua natureza violenta. É com esse grupo um tanto quanto diferente que Michelle irá conviver a partir de agora - se isso é bom ou ruim, apenas o futuro poderá dizer.

E é só isso o que você vai saber sobre a história por aqui porque não quero acabar com as surpresas e reviravoltas da narrativa.

A Filha do Norte começa de forma devagar, aos poucos, como se testando o caminho e firmando as pernas – o que poderia também servir para falar sobre Michelle, nossa protagonista, que vai aos poucos (e a pequenos passos) ganhando confiança em si mesma. O ritmo da trama começa a mudar depois das primeiras cinquenta páginas e uma série de acontecimentos prendem a atenção (e o seu coração começa a acelerar, seus olhos a piscar e a ansiedade toma conta - aquele esquema de sempre, você sabe como é).

A história que Luisa nos traz foi uma grata surpresa, sua premissa é bastante interessante e o mundo criado é, de uma forma ou de outra, envolvente. A linguagem empregada é natural e favorece para o ritmo da narrativa fluir sem problemas e de forma agradável. Com a narrativa seguindo os personagens sempre de perto, ora com Michelle, ora com qualquer outro personagem, o leitor pode conhecer seus pensamentos e fazer suas próprias conjecturas sobre o que cada um deles sente e/ou esconde. Nesse ponto, um personagem que tem muito potencial para “os próximos capítulos”, para mim, é o Wolf. Mais calado e, numa primeira impressão, mais selvagem do que os outros, suas aparições trazem sempre algum detalhe interessante.

Vivi um relacionamento de amor e ódio com grande parte dos personagens (e fiquei indignada com dona Luisa váris vezes), mas Luka e Wolf são, na maior parte, os personagens que mais me agradaram, juntamente com Meredith (que conta com a companhia de Elza, uma outra bruxa). Wolf parece ter um papel importante nos próximos acontecimentos e Luka possui um carisma meio doentio, deixe-me te dizer. Meredith parece uma boa influência para Michelle e espero vê-la em ação em breve. Quanto a Michelle, como comentei anteriormente nesse mesmo parágrafo, tenho uma relação de amor e ódio muito forte com ela. Seu passado é misterioso e suas possibilidades são grandes, ao mesmo tempo sua ingenuidade (ou seria inocência?) a deixa um tanto quando frágil – e, até mesmo com medo de deixar isso para trás e agarrar sua força com unhas e dentes –, mas ela possui um potencial incrível e, desde que esteja determinada, pode mudar drasticamente seu destino.

De forma geral, os personagens se completam. Os Vergamini, as duas bruxas e os habitantes da vila... todos formam um panorama interessante e que trabalham como engrenagens, mantendo tudo o que há tempos fora estabelecido no lugar – até que Michelle chega e começa a, mesmo sem saber, mudar certas coisas (e mudanças, na maioria das vezes, são boas).

Quando uma pessoa passa a sua infância e adolescência assistindo animes e doramas (e lendo mangás sem parar), de um jeito ou de outro vai começar a fazer associações estranhas entre as histórias que já assistiu e as que está acompanhando no momento. Nesse caso, logo nos primeiros capítulos, quando os Vergamini aparecem, comecei a lembrar de um anime que assisti já há algum tempo e que talvez pudesse ser um bom comparativo com A Filha do Norte – o encontro entre uma moça que não sabe onde se meteu e vários homens não tão bem intencionados assim. Agora, enquanto escrevia essa resenha, lembrei que o nome do anime é Diabolik Lovers [link] – que conta a história de uma moça inocente e seis vampiros nada inocentes (aliás, ele tem uma segunda temporada, que eu não assisti, Diabolik Lovers More Blood [link], onde aparecem mais quatro vampiros – e parece zona demais para a minha vida de shipper) –, que apesar de bastante inquietante, possui um encantamento doentio que torna impossível não assistir todos os episódios, o mesmo que acontece com esse livro que te prende até o final. Para mim, guardadas as devidas diferenças entre as histórias, Ayato e seus irmãos tem personalidades parecidas com as dos Vergamini. Mas não vamos perder o foco aqui (porque, parando para pensar, eu poderia até mesmo conseguir relacionar A Filha do Norte com outro anime, Brothers Conflict, e esse parágrafo já ficou grande demais).

Enquanto minha relação com Diabolik Lovers é tensa (mas não vou falar sobre isso aqui), a com A Filha do Norte é muito calma. Essa é uma história repleta de mistérios - e quase não há respostas para eles nesse momento - que deve começar a se desenrolar de verdade no próximo volume (e dona Luisa vai me deixar curiosa até lá, claro). Por ser um primeiro volume é seu trabalho deixar mais pontas soltas do que amarradas e mais mistérios do que respostas – o que faz muito bem. Este é um livro com quase quinhentas páginas que demandam atenção na leitura, pois enquanto sua trama cresce e se torna mais complicada, é possível deixar alguma coisa passar despercebida.

A trama de Luisa Soresini consegue misturar horror e humor ácido num cenário aparentemente comum, mas cercado de elementos fantásticos. Há o peso do destino nas costas de seus personagens e aquela vontade de se rebelar que todos nós carregamos no coração. Há conflitos e relações de ódio e de redenção. Há muito a ser explorado. E a Filha do Norte merece um voto de confiança não apenas de si mesma e de suas amigas bruxas, mas de todos nós, principalmente porque suas aventuras apenas começaram. Leitura mais do que indicada para quem gosta de uma boa trama bem amarrada.

February 12, 2016Report this review