Io ti guardo
2013 • 349 pages

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Resenha para o site up-brasil.com

Já na capa de Eu te Vejo temos uma frase que enche a história de expectativa – “chega um ciclone erótico” – e que me deixou pensando sobre o que seria um ciclone erótico? Então, perto da metade da história entendi o porquê da expressão. A italiana Irene Cao nos apresenta uma história com uma viagem sensual repleta de paixão, onde o importante é sentir prazer e não criar sentimentos mais profundos. A trama gira em torno de Elena e sua maneira de lidar com o desejo (ou no caso, a sua não-maneira), que é completamente abalada quando conhece o famoso chef Leonardo.
Fomos apresentados à Ele, uma mulher recatada de vinte e nove anos apaixonada por seu trabalho como restauradora de obras de arte; sua melhor amiga Gaia, uma mulher cheia de vida que apesar de não querer demonstrar também sofre por amor; seu chefe Jacopo, um conde que não me permitiu formar um parecer muito refinado; seu amigo/affair/alguma coisa Filippo, que a meu ver é um dos personagens mais subestimados de todo o livro; e à Leonardo, o chef irresistível e misterioso – sério, a atitude “eu-te-ligo-quando-eu-quiser-e-você-vem-correndo” não é tão atraente assim, sabe? A história é narrada pelo ponto de vista de Elena e é assim que conseguimos entender como funciona a sua forma de pensar e agir – o que ajuda também a escolhermos um lado para torcer (porque por mais que você tente, é sempre assim). Tudo vai bem, obrigada, então, perto da metade da história, as coisas fogem do controle! Eu realmente não esperava que a sucessão de acontecimentos fosse tão rápida – mas não há nenhum problema nisso, na verdade acabou sendo uma rajada refrescante de surpresa.
Vários acontecimentos aparecem de repente – Filippo e Ele têm uma boa noite juntos, para depois o moço ir embora a trabalho; Leonardo e Ele têm uma ótima noite juntos e é disso que nasce o combinado “vamos-dormir-juntos-mas-não-nos-apaixonaremos” que nos rende uma turbulenta carga de emoções para Elena. Aquele ciclone erótico mencionado no começo desta resenha é ninguém mais do que o próprio Leonardo – sempre mandando em Elena (às vezes também sendo rude), puxando seus limites e lhe oferendo mais prazer do que a moça imaginara. É Leonardo quem guia Elena na descoberta e amadurecimento de si mesma, é quem lhe proporciona aventuras sexuais e quem comanda a situação – não posso deixar de dizer que é ele também quem me causou algum incomodo durante a leitura – nem tanto pelas experiências sexuais, mas por todos os seus mistérios e suas fases de homem problemático que são um pouco cansativos. E mesmo gostando muito de Elena, não posso deixar de comentar que sua falta de força quando se trata de Leonardo também é um fator que não me agradou muito – característica essa que se faz presente em todas as vezes em que depois de um período afastado, Leonardo aparece mandando que ela vá a algum lugar para se encontrar com ele.
É o amadurecimento – tanto sexual quanto mental – da personagem principal que me encantou, Elena cresceu a olhos nus enquanto as páginas passaram. Demora um bocado de páginas para que ela perceba para quem deve realmente se entregar, um bocado de páginas para os personagens convencerem – a si mesmos e aos leitores –, e é no meio disso tudo que Elena consegue perceber que é, sim, uma mulher forte. As profissões mostradas são outro ponto forte – não é todo dia que encontramos personagens tão bem construídos culturalmente falando –, quantas vezes você encontrou uma personagem que trabalha com restauração ou é dona de uma empresa como a de Gaia? (mas eu sei também que chefs nós já conhecemos aos montes!) Também não posso deixar de comentar sobre a paisagem que permeia toda a ação dessa narrativa. Veneza nos é mostrada pelo olhar de uma moradora, não de uma turista, o que confere mais veracidade – ou talvez mais poder de convencimento – e encanta não só pelas descrições, mas pelas observações feitas pela personagem.
Eu te Vejo é uma leitura fluída, rápida e repleta de sensualidade. Seus personagens passam das características que eram esperadas e conseguem equilibrar fatores previsíveis (o par da personagem principal não quer se apaixonar... nós já não vimos isso? Temos um triângulo amoroso, não é o esperado...?) e imprevisíveis (Gaia é uma personagem imprevisível... e a forma de pensar de Elena também) de forma mais do que satisfatória. De modo geral, o primeiro volume da trilogia de Cao me agradou bastante ao não focar só em sexo, mas também no que as personagens realmente sentem – pelo menos o que sentem aquelas que conseguimos realmente ver – e foi um bom começo para a trilogia.

July 8, 2014Report this review