No.6, livro 1: Fuga pela vida
2003 • 160 pages

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7.0

Notas sobre a tradu????o da NewPop: Um lixo. Um completo lixo. N??o compre, n??o leia. Leia a tradu????o de f?? em ingl??s mas n??o leia isso. Eu poderia gastar linhas e linhas me explicando, mas essa review da Amazon diz tudo que eu poderia dizer e um pouquinho mais.



Nostalgia n??o ?? uma palavra suficiente para descrever o tamanho efeito que NO.6 provoca em meus circuitos. O fato de que consumi todas as formas de m??dia relacionadas a esse produto entre 11 e 12 anos de idade diz mais sobre mim do que eu mesmo poderia informar. Se eu pudesse rastrear quantas vezes ouvi todas as m??sicas que ouvi em minha vida, Lama - Spell certamente hoje ainda estaria no Top 100.
Poderia at?? dizer que ?? uma das narrativas que me fez criar paix??o em hist??rias sobre casais que se isolam, que constroem algo para si em um ambiente onde ningu??m os conhece, onde ningu??m ir?? os encontrar com o intuito sendo justamente esse. Foi uma das primordiais em me ensinar a beleza que pode ser encontrada na fuga, no poder que h?? em construir um espa??o meu com a minha voz e os meus olhos.

NO.6 por alguns anos foi o meu cantinho e eu n??o falava dele para ningu??m pois sabia que, l?? no fundo, tinha algo n??o muito ortodoxo n'eu ver gosto em habit??-lo. Me faltava a palavra “ta ?? bu” no dicion??rio mas a defini????o eu j?? a havia descoberto atrav??s de olhares amb??guos e perguntas daninhas.

Homossexualidade sempre foi um t??pico, para mim, terr??vel e indisvencilh??vel. Uma realidade da qual nenhuma das portas se fechavam n??o importava o quanto tentasse - e das quais nunca se fecharam, at?? hoje. Ver a quieta constru????o de Nezumi e Shion foi a minha primeira quietude, mar?? mansa nas intemp??ries de medos e d??vidas - trov??es de auto-desprezo. Eu lembro que era como estar vendo algo ilegal, algo imposs??vel. Contudo, era uma ilegalidade t??o bela, t??o pura que me era inadmiss??vel ser vista com olhos de censura. Eu n??o poderia nunca discutir isso com ningu??m, n??o n??o. Nunca. Socos seriam os menores dos problemas. Mas que este amor era poss??vel, era real!, de fato era.

Entre 2012-2013 eu me dediquei ?? longevidade de NO.6, chega me esforcei em traduzir o m??ximo do mang?? para o Portugu??s (traduzi do Volume 1 ao 5), pela certeza de que ele nunca veria as cores dos c??us de terras tupiniquins. Era uma ??poca em que o mercado de mang??s no Brasil ainda era majoritariamente focado em publicar somente os shonens hits da esta????o do ano. - ?? claro, foi tamb??m o in??cio do virar da mar?? mas n??o era algo que se conseguia enxergar, pelo menos eu n??o enxergava. Hoje em dia a editora NewPOP j?? publicou at?? Ganbare! Nakamura-kun!! o que, pra mim, ?? excepcional e completamente fora da curva... se bem que talvez quem esteja mesmo fora da curva seja eu. Mas em 2012, um mang?? ou light novel p??s-apocal??ptico gay no Brasil? Impens??vel.

Animes e mang??s deixaram de ser minha al??ada por volta de 2013 e at?? pelo menos 2016 eu n??o tive mais contato com este lado do mundo art??stico. Eu chega havia come??ado uma tradu????o da Light Novel de NO.6 e iniciado um processo de tradu????o para Rin-ne da Rumiko Takahashi que acabei abandonando. Para resumir em uma ??nica frase, eu tive uma desilus??o com tudo relacionado ao meio, acho. A quantidade de pessoas de m?? ??ndole que iam nas conven????es, as fujoshis fetichizando tudo que passavam pela sua frente, o esc??rnio cartunesco e descarado de pessoas que viam interesse por cultura asi??tica como algo que deveria ser passado por cima. At?? chegar Gangnam Style e simplesmente virar essa mentalidade de cabe??a para baixo de uma maneira t??o irrevers??vel que hoje gostar de cultura asi??tica ?? praticamente norma.

Minha desilus??o e desinteresse fez com que NO.6 sumisse de minha cabe??a assim como muitas outras mem??rias de meus dias de salada. O abandono s??bito de todo um fervor fez com que as mem??rias coletivas que habitavam esta mesma estante sucumbissem em conjunto. N??o foi at?? 2021, em um de meus ataques nost??lgicos da quarentena, que esbarrei com o encarte da trilha sonora do anime - tal residia em meu falecido Picasa, quem lembra? - e me lembrei em um baque todo a experi??ncia que foi ter sobrevivido esses dias. Me fez perceber o qu??o Em processo somos, constru????es infind??veis, e me fez perceber que n??o mudei muito, tamb??m.

E hoje, a minha m??quina inacab??vel e raramente mut??vel quer revisitar aquela casinha. Quer ver aquela porta que s?? eu vejo e abri-la com o jeitinho que ela precisa que s?? eu sei como fazer. ?? um processo exaustivo, reconhecer que h?? algo de valor detr??s uma porta que voc?? mesmo um dia trancou, com o intuito de nunca mais abrir. Mas n??o ?? como se algu??m, al??m de mim, algum dia ir?? desbrav??-la. E, vamos l??, mesmo que isto fosse poss??vel, n??o ?? como se o que guardei l?? dentro tenha valor para qualquer outra pessoa al??m de mim.

Quando encosto o ouvido na madeira da porta, sentindo as vibra????es que atravessam dem??os e dem??os de tinta creme sobrepostas, eu ou??o uma m??sica. Uma m??sica maravilhosa que n??o ouvia fazia muito tempo.

June 21, 2022Report this review