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Eu não sei se gostei de como foi escrito, de modo tão hermético, quadrado, direto. Talvez seja para que se preste atenção na narrativa; talvez seja para dar conta do pensamento do narrador, dizendo, em parte, o que ele mesmo representa através de sua linguagem. De todo modo, uma história pode ser interessante sem que a escrita seja. Há eu emoções que não precisam se esconder em estilo.
Acho que cai em vários clichês, alguns deles pelos próprios temas que aborda. Faz o que pode para ultrapassar eles, o que rende algumas das melhores partes, mas torci o nariz para muita coisa. O esforço de não reduzir um personagem negro a “o que há de negro dele”, mas incorporar ao drama, é a principal virtude do que há de melhor aqui. Dá universalidade. Quebra o arquétipo do sofredor-que-sofre-em-história-sofrida, que reduz o personagem ao seu sofrimento e, na minha opinião, desumaniza ele. Traz pro coração.
Uma amiga comentou, e dou razão a ela, que é um livro muito enviesado com a perspectiva masculina que idealiza o pai e coloca a mãe como louca na relação, um pouco demonizando. Eu acho que isso conversa com os muitos clichês e traços arquetípicos que acabam atravessando a narrativa.
Quando ele enriquece de detalhes as experiências, mesmo que imaginadas, tentando buscar a resposta ao seus pais como pessoas e pais, é que realmente vem à tona um desejo íntimo de compreensão e a obra é capaz de criar um drama sólido.