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Ciro Gomes declara neste livro sua visão sobre história recente do Brasil, porque e como chegamos onde estamos hoje. E ele faz isso com grande habilidade, a não leitura não é cansativa e conceitos mais técnicos vêm acompanhados de comparações para o público leigo em economia - como eu. Apesar disso, ao final, parece um folheto publicitário do PDT e do presidenciável Cirão da Massa. Por diversas vezes, Gomes engrandece PDT como um partido progressista e desenvolvimentista, contudo fatos recentes colocam isso em dúvida isso, por exemplo:
- Analisando o alinhamento nas votações na Câmara nos partidos de esquerda (e centro-esquerda), PDT encontra-se entre os que mais vota junto com o governo; PSB 43%, PDT 42%, REDE 31%, PCdoB 28%, PT 22% e PSOL 17%. Nas votações no Senado: PDT 73%, PT 67% e REDE 64%.* Obviamente, isso é apenas um apanhado geral, votações importantes, como Auxílio Emergencial constam como voto “governista”. Porém, somando-se, o último acontecimento do Ciro Gomes retirar do candidatura** pela incapacidade de organizar seu próprio partido, coloca-se em dúvida o em que lugar ideologicamente o partido se encontra.
- PDT participou como coligação nas duas eleições da Dilma, apesar das críticas econômicas espalhadas durante todo o livro.
- O Ciro Gomes do livro, é totalmente diferente do pré-candidato de hoje. Hoje ele aposta na corrente “Nem-nem” (Nem Bolsonaro, Nem Lula). No livro, ele se apresenta como forte oposição ao Bolsonaro e com críticas pontuais ao Lula. E argumenta que PT nunca teve um projeto nacional para o país (então, porque seu partido apoiou duas candidaturas da Dilma?). Nos vídeos que tenta alavancar sua baixa intenção de votos (entre 6-8%), aposta no antipetismo para conseguir alguns votos de bolsonaristas arrependidos, esquerdistas desanimados e uns perdidos. Claramente, pessoas de direita votariam nele apenas em um segundo turno improvável com Ciro presente.
- Outra coisa que coloca em cheque sua tremenda oposição ao Bolsonaro hoje - como também diversos outros candidatos da chamada “terceira via” - é fato de ter viajado para Paris no segundo turno das eleições de 2018. Quando poderia ser manifestar contra Bolsonaro, e demonstrar que apesar de o PT não ser o melhor para o país, ainda seria melhor que um candidato sem qualquer projeto de governo que utilizava o mesmo título de campanha que Collor usara: contra a corrupção.
- Ao final, quando tenta se aproximar a todo custo do candidato cristão. Claramente, não é de uma maneira fluída, mas abrupta. E do nada engrandecer uma chamada “agenda de valores” - sem sequer explicar quais valores são estes - e coloca que esquerda se posiciona contra os cristão (uma tremenda de uma baboseira, visto que a religião é uma pauta apenas para reacionários, preocupados com a “cristofobia”). Qualquer pessoa bem informada sabe que as religiões que passam por perseguição religiosa e enfrentam grande preconceito da sociedade são as de matriz africana - por causa disso, partidos progressistas defendem estas religiões, ao contrário de apoiar a grande religião do status quo (leia-se, cristianismos, isso mesmo, no plural). Trata-se de mais uma tentativa de pegar os votos evangélicos do Bolsonaro.
Enfim, Ciro possui um história incrível como político. Admirável. Contudo, sua ambição para se tornar presidente está ofuscando uma vitória. Provavelmente, enquanto o Lula for candidato, Ciro não possui a menor chance. A única forma de Ciro possuir chance de ganhar é... Desconheço. E, pelo visto, sua equipe de campanha também.
*Acesso em 20/09/2021: https://radar.congressoemfoco.com.br/governismo/camara
**Acesso em 20/09/2021: https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/11/04/ciro-suspende-pre-candidatura-a-presidencia-apos-votos-do-pdt-a-favor-da-pec-dos-precatorios.ghtml