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Tudo é rio é o livro de estreia de Carla Madeira. Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso. Na orelha do livro, Martha Medeiros escreve: "Tudo é rio é uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais lenta é quase impossível, pois a correnteza dos acontecimentos nos leva até a última página sem nos dar chance para respirar. É preciso manter-se à tona ou a gente se afoga." A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem.
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Estuve 30 minutos diciendo "chale" despúes de terminar el libro. Tiene un lenguaje muy aterrizado, no es rebuscado ni sobredescriptivo, es simple pero no por eso menos profundo. La autora muestra los matices grises de todos los personajes y la narración lo hace a uno perder y luego recuperar la fé en la humanidad. Chale.
Não consegui entender o apelo, a escrita pretensamente poética me soa sempre forçada, exagerada e piegas, os personagens me parecem são rasos e inverossímeis e a voz narrativa consegue ser ainda pior que o resto.
Lendo as reviews, realmente sinto que as pessoas perderam a capacidade de lidar com o contraditório. Acho que por isso esse livro é tão provocativo e polêmico e, ao mesmo tempo, tão relevante.
É tempo em que o desejo pelo puro, pelo casto, pelo intocado, é glorificado; e a humanidade, em tudo de ruim e melancólico que lhe corresponde, é jogada às traças. É preciso ser perfeito. E o sentir real, frequentemente contraditório, por não ser perfeito, sob esses moldes muito óbvios e reiterados de certo e errado, não merece comiseração.
Para certa gente, expor e se compadecer é endossar. Quando não há pureza, expia como se culpa fosse; ou justifica, se lhe convém. O resultado é que, quando não soam anacrônicos, soam moralistas; quando não soam moralistas, soam hipócritas. Em alguns casos, soam tudo isso ao mesmo tempo.
São quase tão católicos em sua culpa e julgamento quanto qualquer beata que passeia por aí.
Tudo é Rio, com sua capacidade de não ser o esperado, mexe com essa moralidade muito flácida de quem pensa que nunca errou ou pensa tanto de si e de sua visão de mundo que esquece do outro.
Mesmo o aspecto mais negativo, a tendência ao naturalismo, que flerta com certa visão arquetípica dos personagens, é consistentemente interrogado. O sentimento, que é o que move realmente a trama, desfaz ou pelo menos questiona esses arquétipos; e as incursões por traz da vida de cada um também rompem as aparências. Por isso, dificilmente poderia ser acusado de ser um livro simplista na forma de lidar com os personagens. É uma obra muito capaz de compreender cada um deles e transmitir as suas mudanças, por mais que essas mudanças não sejam o que a gente quer ou espera.
De fato, como o foco não está na sociedade e nas condições de vida (pra isso, vá ler Jorge Amado), mas sim nos sentimentos e nas formações psicológicas que lhes correspondem, uma abordagem dos personagens desse tipo é muito mais eficaz do que os rodeios de trama. Aliás, nessa interrogação do arquétipo ou o seu uso inteligente é que mora o charme de um García Lorca. É também fruto dessa tradição o plot twist melodramático e as incursões do narrador.
É livro pra reler, eventualmente. Por enquanto, é isso. Joguem pedras!