Correndo o risco de ser altamente impopular, direi que embora tenha amado profundamente a história, a vida de Xispê/Maria, os personagens bem construídos, a tristeza inerente, etc, a cada par de páginas tinha a sensação de que ela é tão articulada, tão editada, tão machadiana em seu vocabulário e construções de frase que eu pensava se tinha perdido alguma parte da personagem - é uma leitora voraz? convive com intelectuais? lê dicionários no tempo livre? acessa canais de filosofia? - sem sacanagem, não é só o uso de palavras como soberba, que (infelizmente) não são comuns no cotidiano, mas a própria narrativa, excepcionalmente bem escrita, na voz dela. Talvez porque recentemente eu tenha lido Via ápia e tenham me chamado a atenção para o uso da voz das ruas do autor, aqui eu tive a impressão diametralmente oposta, a ponto de de fato ficar um pouco incomodada.
Isso dito, é um livro tão bonito, tão profundo, e aquele gosto de ‘não volto não viu dona Gerda' no final, tão bom... vale super.
Minha primeira obra de Claudia Piñeiro, emprestada da família Barbão (Marcelo traduziu). Não sou boa de lógica, mas leio muitos livros policiais, o que talvez tenha me ajudado a deduzir boa parte da trama um bom tempo antes de chegar no seu desfecho. Ainda assim, o caminho que ela traçou para chegar a cada lugar foi muito gostoso de trilhar (se podemos chamar de gostoso um crime), fiquei envolvida o tempo todo e li numa única sentada.