A Contrapartida

A Contrapartida

2019 • 336 pages

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Ainda dentro do meu cronograma de postagem de resenhas que demandaram duas leituras para serem escritas, hoje é dia de te contar um pouco sobre como foi a minha experiência com A Contrapartida, livro de estreia de Uranio Bonoldi. Depois de receber o exemplar da editora Valentina e ler pela primeira vez, muitos pontos da trama me deixaram insatisfeita com a leitura - tinha a impressão de que tinha lido tudo muito rápido e que provavelmente alguma coisa tinha passado e eu não tinha percebido -, o que me levou a escolher reler depois de algum tempo. Esta resenha, então, reflete minha experiência com a segunda leitura.
Nesta história conhecemos Octávio Albuquerque Junior, Tavinho, que sempre teve uma boa vida com sua família e amigos lhe dando apoio, mas tinha muita dificuldade para aprender na escola e por isso sofria bullying dos colegas. Temos também Iaúna, índia de uma tribo extinta, que tem sua vida marcada pela violência até que uma mulher visita sua tribo e a leva para a cidade, onde ela passa a trabalhar (e assim conhece Tavinho, filho de Cristina, sua patroa). Com pena do garoto e querendo ajudá-lo a realizar seus sonhos, Iaúna lhe propõe fazer um ritual antigo de sua tribo, que poderia lhe ajudar na aprendizagem, mas que leva ingredientes nada convencionais. Tavinho precisa então decidir se está disposto a fazer o que for necessário para ser o que deseja.
Dividido em quatro partes e narrado em terceira pessoa, a trama possui uma fluência interessante, pois perpassa diversos momentos da vida do personagem principal, o que nos possibilita conhecer mais sobre a história dele, de seus pais e de Iaúna. Para mim, essa abundância de passagens foi uma escolha arrojada, mas me pareceu que o autor perdeu um pouco as rédeas da narrativa em alguns momentos, pois em diversas partes precisei reler [uma, duas, três vezes] para entender o papel da passagem na trama porque a sensação era de que estava solta no meio do todo. Isso também vale para algumas situações com diálogos extensos e trechos repetitivos, onde o recontar de fatos já contados faz com que o ritmo de leitura diminua significativamente. No entanto, isso não significa que a história não entretenha e prenda em sua maior parte, apenas que não funcionou completamente para mim.
Ainda que eu não tenha realmente me conectado com as personagens (e isso é mais uma questão de momento de leitura do que outra coisa), é visível que seus personagens foram muito bem trabalhados e caracterizados durante toda a trama. Iaúna é, sem dúvidas, minha personagem preferida, mesmo que as questões morais envolvendo Tavinho sejam um ponto alto da trama e instiguem o leitor a pesar suas próprias questões, é Iaúna quem abre essa porta para o protagonista (e isso é bastante significativo ao meu ver).
Antes de terminar este texto, não posso deixar de salientar que a história é sim bem desenvolvida. O autor consegue colocar o leitor perto do personagem a todo momento e fazer com que ele (o leitor) passe boa parte da trama preocupado com as escolhas de Tavinho e se perguntando o que faria se estivesse no lugar do personagem. As noções de ética e moral são bem desenvolvidas e problematizadas e me parece que este é o ponto alto da história: nos levar a pensar nossas bases, nos questionar até que ponto conseguiríamos ir para realizar nossos sonhos. Ao acompanharmos Tavinho em sua jornada repleta de surpresas (e desfecho inesperado) e vermos qual o preço a pagar para alcançar certas coisas, conseguimos entender o peso (ou seria poder?) das escolhas que fazemos.

August 22, 2019Report this review