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Ainda considerado como um dos mais inovadores e desafiantes tratados biológicos já escritos, A origem das espécies, com sua abordagem sobre os processos evolutivos, chocou grande parte do mundo ocidental, quando foi lançado em 1859. Nesta nova edição, com ilustrações em cada capítulo e prefácio de Nélio Bizzo, especialista no assunto e professor da Universidade de São Paulo, os leitores terão contato com a mais importante obra sobre Biologia jamais escrita.
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Meu primeiro contato com a seleção natural foi através do livro “A Caixa Preta de Darwin”, escrito pelo criacionista Michael Behe. Infelizmente, no livro, Behe omite, distorce e ignora todas as evidências da Teoria da Evolução para propagar sua agenda religiosa, confabulando sobre “complexidade irredutível”. Na época, em busca de provas que confirmassem meus vieses, fiquei convencido.
Contudo, graças a Deus, resolvi ler “Deus, um Delírio”, de Richard Dawkins, alguns meses após a leitura do livro de Behe. Descobri que Behe foi cirurgicamente seletivo em seu livro e que, na época de sua publicação, já havia uma vasta quantidade de evidências que demonstravam os sucessivos processos de evolução da cascata de coagulação, do olho humano e dos flagelos. Além disso, em 1996, durante um julgamento, Behe foi confrontado com evidências que refutavam suas ideias, ao que ele alegou não ter lido nenhum dos 58 artigos que o contradiziam. Em 2005, ele foi convocado para defender a implementação do ensino criacionista em uma escola, mas a proposta foi recusada pelo juiz, uma vez que foi demonstrado que não havia nenhuma evidência para a tal “complexidade irredutível”.
Isso tudo demonstra o impacto da publicação de “A Origem das Espécies” desde sua primeira edição em 1859. Antes mesmo de sua publicação, as ideias evolucionistas já eram comuns no meio acadêmico; contudo, com o livro, Charles Darwin pôde demonstrar, por meio de inúmeras evidências, que os seres vivos eram mutáveis. Muito distante da ideia que os religiosos defendiam na época — o fixismo, que postulava que cada ser continuava exatamente como Deus o havia criado no Éden —, a seleção natural apregoava que todos os seres estavam em constante modificação, transmitindo heranças (Darwin não fazia ideia na época do que era um gene) e que, se voltássemos no tempo, olhando fósseis, poderíamos estimar como os ancestrais comuns formaram essa belíssima árvore da vida.
O prazer de ler o livro e ver Darwin descrevendo e formulando hipóteses que depois seriam confirmadas é inenarrável. Abordando desde variações entre espécies, domesticação, relações ecológicas, heritabilidade, distribuição geográfica das espécies, morfologia, embriologia e geologia — não apenas de fósseis, mas também sobre os estratos geológicos. Somado a tudo isso, Darwin escreveu um capítulo próprio para demonstrar as falhas e como sua teoria poderia ser refutada (tenho certeza de que Karl Popper pulou esse capítulo quando teceu críticas sobre a evolução), evidenciando o lado mais belo da ciência: a capacidade de estar errada. De não ser uma verdade incontestável, mas, assim como os próprios seres vivos, evoluir.
Desde o século XIX, a teoria da seleção natural ganhou cada vez mais forma, principalmente após a junção com os conhecimentos da genética e a formação da atual Teoria Sintética da Evolução. E ainda, apesar de todos os avanços, a árvore filogenética que nos une continua incompleta. Isso é o principal fator que torna essa ideia tão bela: ela não foi revelada na sua totalidade para nós, não é imutável, mas ainda está sendo descoberta, e provavelmente nunca será completamente desvendada. Por causa disso, basta nos maravilharmos a cada passo na busca por mais conhecimento...
Com as últimas palavras, a pessoa com quem tenho a honra de compartilhar o mesmo nome:
“There is grandeur in this view of life, with its several powers, having been originally breathed into a few forms or into one; and that, whilst this planet has gone cycling on according to the fixed law of gravity, from so simple a beginning endless forms most beautiful and most wonderful have been, and are being, evolved.”
PS: Darwin, por diversas vezes, queixa-se do registro fóssil ser esparso: “Para nos fazer compreender melhor a improbabilidade que há em podermos ligar entre si as espécies por formas fósseis intermediárias, numerosas e graduadas, não há como procurarmos, por exemplo, como conseguirá um geólogo, em qualquer época futura...” e “Poderia encontrar-se a prova da sua existência passada apenas nos restos fósseis que, como tentaremos demonstrá-lo no capítulo subsequente, apenas se conservam de uma maneira extremamente imperfeita e intermitente...”. Infelizmente, ele não viveu o suficiente para conhecer a maravilhosa área que a paleontologia se tornou. Ele ficaria extremamente feliz de perceber que todo o registro fóssil confirmou e continua confirmando sua teoria.