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Fazendo uso de uma estrutura bastante inovadora, Carrascoza conta duas histórias simultaneamente, que correspondem a dois momentos distintos na vida do personagem principal, que nunca é nomeado - seus sete e seus quarenta anos. Com capítulos intercalados, os ímpares narrando a infância e os pares a vida adulta, o autor se usa dessa estratégia para construir a oposição já presente no texto. Assim como a própria infância, os capítulos dedicados ao sétimo ano de vida do personagem são compostos de breves, mas intensos, episódios independentes, sobre suas experiências - a transgressão de roubar com um amigo o pássaro do vizinho; o esforço para seguir em frente após a perda do primeiro amor; as partidas de futebol disputadas com o irmão ao fim de tarde no quintal de casa. Ao melhor estilo Cortázar, os capítulos ímpares podem ser lidos em qualquer sequências. Os capítulos dedicados à vida adulta, ao contrário, trazem uma sequência de acontecimentos cronológicos relacionados à crise vivenciada pelo personagem aos quarenta anos; a separação da mulher, a falta dolorosa que sente do filho... Interessante é notar, ao longo da leitura, como a personalidade e o caráter do menino que começavam a se formar na infância se fazem notar na maturidade. Num jogo de ação e reação, os títulos dos capítulos sintetizam os dois momentos por meio da oposição - 'fim' e 'recomeço', 'silêncio' e 'som', 'nunca mais' e 'para sempre'. Da mesma maneira, o projeto gráfico dialoga com esta dualidade - impresso em uma cor, sobre papel verde, o livro traz as narrativas da infância na parte superior da página enquanto as da vida adulta se encontram na inferior, acentuando os dois momentos distintos do personagem.
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Que delicadeza e expressão! Da narrativa ao conteúdo, a gnt se enxerga e comove nos dois lados desse espelho.