«São várias as minhas pátrias:
Wachau, no outono. O Danúbio sob a névoa que um batelão torna mais espessa. E rápida. Os meus olhos. Na sua estação única. Há um nome distante e sem regresso: o verão. Esta é a pátria dos nomes sem regresso. Vai de Grein a Krems. De Melk a Mautern. Tem duas margens, três ou quatro pontes. E um rio perdido entre nascente e foz.
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Depois de Castelo Branco, até à serra da Estrela. A pátria de uma das minhas infâncias. De metade de todos os meus nomes. Os da terra. Que proliferavam. Uma coisa era sempre nova. Um nome acrescentava a outro uma espécie de alegria. Dizê-los. Ligavam-se pelo olhar perguntador e formavam extensas frases. As mais extensas da vida. Gosto da memória da infância. De a escrever. Porque as palavras ainda não tinham encontrado a denúncia. Nem a traição. Avô, como se chama esta árvore? E esta pedra? E este bicho? E a palavra única surgia, da indiferença de todas as árvores, de todas as pedras, de todos os bichos. Um pássaro, de todos os pássaros. Entre a Gardunha e a Estrela, a pátria tinha o tamanho de uma casa, via-se onde começava e acabava, apanhávamos rãs nos seus ribeiros e cágados nos seus poços. Armávamos aos pássaros, sob as oliveiras. E ouvia-se a morte no som dos costilos a fecharem-se. Meus avós estavam parados na eternidade da velhice. E o tempo era uma repetição fulgurante.»
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