A cultura de direita é uma cultura na qual o passado é uma espécie de mingau homogêneo que pode ser preparado e conservado de maneira muito útil. Cultura em que prevalece uma religião da morte ou uma religião dos mortos exemplares. A cultura em que se declara que existem valores não questionáveis, indicados por palavras iniciadas por letra maiúscula, especialmente Tradição e Cultura, mas também Justiça, Liberdade e Revolução. Em suma, uma cultura feita de autoridade, de segurança mitológica em relação às regras do conhecimento, do ensino, do comando e da obediência. A maior parte do patrimônio cultural, mesmo das pessoas que não querem, hoje, de forma alguma, ser de direita, é um resíduo cultural de direita. Nos últimos séculos, a cultura protegida e ensinada foi, sobretudo, a cultura de quem era mais poderoso e mais rico, ou, mais exatamente, não foi, a não ser minimamente, a cultura das pessoas mais fracas e mais pobres. É inútil e irracional ficar escandalizado com a presença desses resíduos, no entanto é necessário tentar saber de onde eles vêm. Original estudioso da mitologia moderna, Jesi dedica os estudos aqui reunidos a identificar as matrizes subterrâneas e a linguagem das «ideias sem palavras» da cultura de direita entre os séculos xix e xx; e o faz desmascarando os clichês, fórmulas e slogans que aludem a um «vazio» a ser preenchido com materiais mitológicos, um núcleo mítico profundo e incognoscível, mas fundador e modelador, ao qual se referem os «valores não questionáveis» de Tradição, Passado, Raça, Origem, Sagrado. Partindo dessa perspectiva, Jesi investiga o esoterismo de Julius Evola e o luxo retórico de D’Annunzio, as páginas de Liala e Pirandello, os aparatos linguísticos e icônicos subjacentes ao fascismo e neofascismo, nazismo e racismo. Esta primeira edição brasileira de um livro ainda muito atual é acompanhada por três textos inéditos e uma entrevista.
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