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Toda releitura de conto de fadas me deixa receosa – mesmo depois de conhecer a premissa, lá no fundo da minha mente resta a ansiedade que me persegue até o final da leitura. No caso do romance de Blackwell havia ainda o peso da opinião de pessoas que conheço – muitas gostaram, muitas odiaram.
Depois de quase um mês com o livro passeando entre minhas mãos, cheguei a conclusão de que gosto do estilo de escrita de Blackwell. Suas palavras são combinadas de forma quase artística e sua narrativa flui num ritmo constante. É uma releitura sólida – e crível. No entanto demorei bastante para terminar de ler – foi uma combinação de férias e suas muitas possibilidades e uma sensação de amortecimento com a história, que me atrapalhou um pouco.
Então o que vale contar sobre essa história (que não estrague as surpresas)? O foco da narrativa. Enquanto Bela Dormia conta a história de uma princesa, mas de forma diferente. A princesa acaba em segundo plano, pois é quem conta a história que toma conta da narrativa. Está é Elise, uma das garotas que trabalhavam no palácio, primeiro com a irmã do rei, Millicent, e depois com a Rainha Lenore e sua filha.
É Elise quem muda seu destino e é através de seus olhos que vemos o sofrimento da rainha em não conseguir conceber uma criança, a barganha que Millicent faz – e sua consequente maldição – e o crescimento de Rosa. É também ela quem perde o seu amor, quem descobre quem realmente é, quem luta com seus medos, quem perde pessoas amadas (e volta a encontra-las) e quem ajuda em grande parte dos momentos. Mesmo sendo uma personagem forte, Elise é frustrante. Ela coloca sua carreira no palácio acima de tudo, e algumas de suas ações deveriam ser diferentes – entretanto, depois de um distanciamento maior da leitura, percebo que, apesar dos pesares, ela fez o que deveria fazer.
O final no entanto... O final foi ótimo. Nós seguimos a história e o seu fechamento (que na verdade foi o começo de muitas outras coisas) foi mais do que eu esperava. Foi realmente bonito.
Enquanto Bela Dormia é imensamente diferente de A Bela Adormecida, a autora consegue balancear a criação de um mundo medieval castigado por doenças e cercado por perigos reais com elementos, ícones e personagens do conto de fadas que todos conhecem. A essência do conto está aqui, ainda que com os acréscimos de realidade (tão bem construídos) e da história de uma mulher que espera alcançar a felicidade depois que todos os que ama estiverem bem.
Blackwell nos propõe uma leitura agradável, com acontecimentos inesperados e personagens bem construídos – ainda que leve algum tempo até que nos acostumemos com eles. É uma história que se deve ler e pensar a respeito tempos depois.
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