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O que falar sobre Reinaldo Azevedo?
No mesmo tempo que possuímos falas como “Estou convicto de que a importância de uma civilização é inversamente proporcional à variedade de seus instrumentos de percussão”, temos também “A democracia não se esgota na vitória da maioria. Ela supõe a observância das regras do jogo e o respeito às minorias [...]”. Bem humanista, nada reacionário. Mas espere eu tirei a cereja do bolo: [Os novos tiranetes da América Latina ainda não entenderam esse princípio. No Brasil, o PT faz de tudo para fraudá-lo]. Acho que isso resume muito sobre o jornalista.
Li um ou outro artigo no Revista Veja. Mas sempre achei ofensivo demais. Na época, não conseguia digerir o antipetismo. Não gostava do governo também. Lembro dos salgados do intervalo (antes do ensino médio era chamado de recreio) aumentarem muito de preço ao longo do ano. Entretanto, não me lembro de meus pais ou familiares reclamarem do Lula. Muito deles inclusive votaram no operário do ABC. Então, o que justifica as falas pouco politicamente corretas de Reinaldo Azevedo com o atual defensor inabalável da democracia?
Inevitavelmente, o Tio Rei sempre foi um democrata. Sempre. Tinha asco a qualquer deturpação de liberdades, principalmente, as “liberdades liberais” - também chamadas de inalienáveis. Inclusive uma outra frase do livro: Pinochet já vai tarde. Posso viver sem um ditador para chamar de “meu”. E a esquerda? Pode?. Aqui está o ponto chave, pouco importa a ditadura, o Reinaldo sempre será um conservador. E um conservador da democracia liberal, que é exatamente o que anticapitalistas (os que não gostam do capitalismo pelas mazelas, mas usufruem de suas benesses) e comunistas (os que queriam um mundo pautado na plena igualdade custe o que custar) odeiam. 4° frase e última: Aposto que boa parte dos nossos universitários, a pretensa elite intelectual brasileira, acredita que as vacinas nascem do desejo de servir, não da pesquisa financiada pela salvadora cupidez da indústria farmacêutica. Este é Reinaldo Azevedo.
Alguém que acredita fielmente que povo não existe, o que existem são pessoas. Individuais. Sem definições puramente categóricas. E não nega essas divisões. Apenas acha supérfluo e um engodo definir sociedades que são tão diversas por lutas de poder. Dessa forma por vezes, no seu entendimento sobre a esquerda, Pelé só seria completo se tivesse uma vida voltada contra o combate ao racismo. Glória Maria também. Abdias Nascimento e Silvio Almeida são santos para esquerdas, por terem feitos da sua vida uma luta pela cor. Pra mim e pro direitista, os quatros são fenomenais. Pelas vidas individuais que os quatros levaram e, no caso do último, ainda leva - agora como ministro do governo Lula (Parte III).
Tudo isso pode nos ensinar muito sobre política. Não nego excessos de Reinaldo. O conservadorismo precisa saber quando ser conservador. Por vezes, numa sociedade tão desigual como a nossa, “conservar” é excluir. Ele inclusive mudou a opinião sobre isso, por exemplo, em relação a Lei de Cotas. E também tentar se afastar do reacionarismo. Também, como progressistas, não podemos esquecer o oposto: não podemos ser progressistas ao ponto queremos mudanças maiores do que nossa sociedade seria capaz de assimilar. Isso não significa que devemos parar de lutar pela liberdade reprodutiva das mulheres. Jamais. Apenas devemos tentar compreender como podemos tornar isso uma compreensão da maioria na nossa sociedade. A Europa com seus partidos conservadores conseguiram avançar em pautas humanistas mais rapidamente em décadas passadas - numa época que diversos assuntos eram tabus - do que a esquerda latina em décadas mais recentes.
Revoluções são bonitas apenas no mundo das ideias, onde se acredita que elas ocorrem sem sangue ou que sangue de inocentes é justificável. No mundo real, revoluções são ficções. Conseguimos mudar a realidade em passos pequenos. Construímos (estamos, na realidade) o SUS aos poucos. Estamos no processo de melhorar nossas escolas. Quem sabe um dia, teremos um Brasil sem narcotráfico. Sem milícias. Que a população vote por orientação ideológica. Um Brasil que veremos um esquerdista defender a iniciativa privada como capital inovador. Um país que um direitista defenda o acesso universal, gratuito e de qualidade da educação e da saúde. Estamos longe. Mas já estivemos muito mais.