Serafina e a Capa Preta

Serafina e a Capa Preta

2015 • 240 pages

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“Só porque alguma coisa é diferente, não quer dizer que você simplesmente tenha o direito de jogar fora.” (p. 49) É com esse trecho (que se você parar para prestar atenção, perceberá que quer dizer muita coisa) que abro as portas da resenha desse livro que ainda não sei como contar o quanto me surpreendeu de uma forma muito boa.
Vou começar dizendo o que esperava dessa história: quando li a sinopse imaginei que teríamos mais uma garota curiosa que se encontra no meio de uma encrenca enorme e acaba por descobrir alguma coisa muito importante sobre o seu passado. Ou seja, espero por tramas que sejam ótimas para entreter, mas que não tenham nada de novo sob o sol – e geralmente espero que neste “nada novo” haja, no mínimo, um estilo de escrita bom, uma construção de personagens adequada ao mundo proposto e cenas capazes de prender a atenção.
O que encontramos aqui: uma história bem amarrada do início ao fim, com enigmas e surpresas nos lugares certos [e desenvolvimentos inesperados],.personagens bem pensados (ainda que poucos capazes de totalmente ganharem nosso coração) e construídos de forma que cada um tenha suas características bem marcadas e distintivas, uma personagem principal singular cheia de princípios (e pensamentos) e com o coração no lugar certo. Ou seja, temos um instigante começo de série, com a introdução de personagens, temáticas e problemáticas feita de forma mais do que satisfatória. agora vamos aos pontos específicos.
Confesso que demorei um pouco para me afeiçoar ao estilo de narrar de Beatty, principalmente porque suas cenas iniciais são cheias de descrições sobre a mansão Biltmore e seus moradores, mas conforme a história progrediu, suas linhas nos fazem ficar afeiçoados a Sera e Breaden, seu mais novo [e único?] amigo. Me pareceu que sua forma de contar a história vai ganhando força e encorpando conforme Sera vai criando coragem para fazer o que precisa e descobrir o que deve. E isso faz muito sentido porque Serafina é uma personagem ótima: ela pensa criticamente (como podemos ver na primeira linha desta resenha), ela questiona, ela pensa, ela encontra soluções, ela entende e então volta a questionar – e ela lê muito [principalmente como uma forma de conhecer o mundo, mas veja como há um papel importante para a leitura aqui]. Nada está gravado em pedra para essa menina de doze anos.
A trama possui um senso de amizade, amor familiar e apreciação pela individualidade de cada um que eu não esperava – e teve espaço suficiente para ação, drama e humor. Gostei muito da forma como o autor trabalhou a questão de “pertencer” a um lugar ou a alguma coisa, é um tema importante para a idade-alvo da história e perpassa toda a trama sem fazer escândalo, é tratado naturalmente. Ainda que o começo seja devagar, de forma geral é uma história adorável e de leitura fácil. Depois de certo ponto, voamos pelas páginas para descobrirmos tudo o que Beatty planejou para Sera. Ansiedade é uma coisa real nessa leitura. E então, quando a última linha é lida, fica aquele sentimento de felicidade e coração aquecido pela esperança do que pode vir para Sera, seu pai (que eu realmente não me comentei sobre, mas que vale falar que é um persoangem interessante) e seus amigos. São nas últimas linhas também que temos a impressão de que o narrador está falando as linhas finais de um filme épico, que te deixa com uma sensação boa.
O enredo de Serafina e a Capa Preta possui uma simplicidade cativante, a atmosfera de busca pelo Homem da Capa Preta (que me lembrou muito, em alguns aspectos, o Homem do Saco que os pais avisavam aos filhos para tomar cuidado) que permeia todas as páginas fez com que a trama fosse sinistra, encantadora, misteriosa, fascinante, um pouco estranha e de arrepiar (pelo menos os mais jovens, porque esta leitora que vos fala ficou mais ansiosa do que arrepiada) – e agora eu entendo totalmente porque me disseram para não ler na praia [hahaha ooooie, Carina!].
Serafina é o tipo de livro que eu gostaria de utilizar em sala de aula para despertar nos leitores mais novos um sentimento de que cada um tem seu “lugar no mundo”.

February 27, 2018Report this review