Davi

Pensei muito sobre os ratos enquanto lia, subsuperficialmente, relacionando eles aos personagens... pelo rebaixamento, pela fragilidade... Todos são vulneráveis no livro, em camadas; uns mais que outros. A idade, o gênero, a raça, o status, a capacidade intelectual... são fragilidades cumulativas que definem a hierarquia da fazenda. No entanto, cada um dos mais rebaixados ganha espaço de fala pelas mãos de Steinbeck, e a oportunidade de reescrever suas primeiras impressões, normalmente indiretas e distorcidas; a maioria por conta própria, mas Lenny ganha essa empatia a partir da própria narração.

A narração, inclusive, contrasta fortemente com a oralidade das falas e destaca esse senso de vulnerabilidade dos personagens, sem nunca, contudo, tratá-los como inferiores. O ritmo do livro também é bem fluido, e a maneira como a história ecoa dentro de si fortalece esse processo, a intensidade dos momentos escalando calmamente até o final. Além disso, a narração também trás momentos idílicos à leitura, descrevendo momentos e espaços de forma bela e breve, quase um respiro a cada capítulo.

Quanto ao enredo em si, ele traz uma imagem muito bonita de sonhos e como uma luz ao longe dá forças para seguir em frente. Mas também é muito sobre duvidar desses sonhos, sobre o mundo real e suas dores, sobre seguir em frente sem a luz.

Tive uma experiência média. A história é fluida o suficiente, mas tem elementos que não me agradam muito. Gosto bastante do período mais bucólico da história, da formação dos protagonistas e da evolução da conexão entre eles. A experiência geral de leitura também foi agradável, apesar de alguns detalhes.

Toda a temática de guerra e honra e glória me são meio entediantes, mas acaba sendo parte integrante da história original, não tem muito o que ser feito. Mas algo que me incomodou bastante foi a inconsistência da narração, primeiro com tempo verbal no passado, depois brevemente no presente, depois de volta ao passado, depois de volta ao presente, sem motivos claros o suficiente para as trocas. Essa técnica podia ter sido uma ferramenta narrativa muito interessante, mas a oportunidade foi perdida, ao meu ver.

Outro ponto foi o tratamento de alguns personagens, tendo viradas de personalidade sem grandes justificativas, o que é menos grave, e alguns tratados de forma muito superficial ou unidimensional, o que acaba ficando um pouco caricato.

Enfim, 3 estrelas.

As duas histórias se entrelaçam ao longo do livro. De início achei a primeira mais interessante, tanto pelo estilo de narração, quanto - talvez principalmente - pelas adições e divagações do autor. No entanto a segunda cresceu mais e mais, até quase superar a primeira perto do fim, quando me desmontou, apenas para que fosse remontado por uma ode à felicidade nas próximas páginas.

Por falar nisso, os temas discutidos nas tangentes narrativas são alguns dos meus favoritos, tempo, existência, vida, humanizações... Me senti tendo uma conversa com um amigo que adoraria desenvolver, mas era puxado de volta ao livro logo depois. As partes direcionadas ao leitor dão uma pessoalidade que gostei muito, me senti testemunha da construção da história e não só leitor póstumo de um livro morto.

Um detalhe interessante são os elementos de sonho, capturados com perfeição e demonstrados como detalhes pontuais, memoráveis e micro-absurdos. Enquanto isso, os elementos de pesadelo são muito mais abrangentes e mudam totalmente a atmosfera da escrita, como uma infestação invasiva.

[a:Henry James 159 Henry James https://images.gr-assets.com/authors/1468309415p2/159.jpg] consegue criar uma linha tênue de ~suspensão~ entre as duas possibilidades de percepção da história que é surpreendentemente constante. A ponto de eu me sentir ao mesmo tempo com medo das crianças e duvidando da narradora.O autor constrói o suspense muito bem, nos dando a exata quantidade de informações pra nos deixar “hãn??”. Além disso, o uso da linguagem na narração, com as quebras e inversões de sintaxe, convida uma leitura mais atenta e me forçou, muitas vezes, a terminar as frases antes de entendê-las por completo; acho que isso deu um ritmo interessante - e surpreendentemente fluido - ao livro, mas às vezes acabava fazendo exatamente o contrário, quando muito exagerado, e eu precisava reler uma frase algumas vezes, travando um pouco a leitura.Adorei o recorte da história e principalmente o ponto onde o livro termina, inesperado, mas suficiente, convidando a uma longa sessão de reflexão pós-livro heheh... Só senti falta de um desfecho pra frame story, que ficou meio perdida no início.

Não dá pra não comparar com [b:Kafka on the Shore 4929 Kafka on the Shore Haruki Murakami https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1429638085l/4929.SY75.jpg 6191072], que foi o único livro dele que li antes desse, mas ainda assim são livros surpreendentemente diferentes. O estranhamento típico de Murakami permanece, mas toda a forma de contar a história é bem distinta. Enfim... vou tentar escrever só sobre Caçando Carneiros.A primeira porção de ambientação do livro me agradou muito, mas as cenas bem divididas desse início acabam ficando destacadas do resto, acho que esperava que o livro fosse mais como o começo. Gostei muito de como Murakami tece atmosferas e sensações, e também das construções líricas que, num livro com tantos absurdos literais, acabam ganhando ainda mais força. Em contraste, as partes que menos gostei foram as narrações em segunda mão e as mini-biografias que tomam partes do livro pra si, acho que inserir essas informações na narrativa de outras formas poderia ser mais agradável.No geral, continuo achando que Murakami escreve muito bem e cria histórias interessantes e fora do comum. Quero ler mais obras dele e ver até onde ele leva essas temáticas meio surrealistas misturadas com dramas reais.

A ideia é interessante e as experimentações da escrita, ousadas. Mas, na minha leitura, o interesse rapidamente se perdeu no caos e, sem uma linha narrativa pra me guiar, acabei terminando o livro só por terminar.

Gostei genuinamente de alguns capítulos e certos usos da língua, com oclusões e reorganizações de palavras; e além disso, Ruffato também consegue criar diálogos que soam muito reais em tom e vocabulário. Mas as diversas variações nas formas de escrita e narração, que por um lado traduzem um pouco a cidade de SP, acabam também deixando a leitura cansativa e confusa. Sinto que muitas das características que julguei defeitos seriam bem vindas não fosse o excesso ou a aparente desorganização do todo.

No fim foi uma leitura decepcionante, mas não ativamente ruim.