Cândido, ou O Otimismo

Cândido, ou O Otimismo

1759 • 184 pages

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A princípio, me impressionei com o uso constante do humor ácido na narrativa, distante da minha visão da escrita do século XVIII. A surpresa inicial me gerou boas risadas nos primeiros capítulos, mas a estratégia acabou se tornando repetitiva no ritmo acelerado da história. Isso não enfraquece a potência da sátira, só fez minha experiência com a história mudar com o tempo.

O embate entre cenas desagradáveis e eufemismos, metáforas e hipérboles deixa clara a denúncia em vários momentos (como aos horrores da guerra, da nobreza, da religião ou da crueldade escravagista), mas acaba caindo num espaço ambíguo entre naturalidade e desgosto em outros (como o secundarismo feminino ou a inferiorização de não-brancos). A valorização de uma sociedade não europeia é bem legal de se ver e Voltaire é muito eficiente em atacar absolutamente todas as partes da sociedade que o rodeava na época.

A constante mudança de cenário e personagens secundários me tirou um pouco do fluxo de leitura, e as conveniências e retornos de personagens em partes aleatórias do mundo também me geraram descrença, já que colocam a história num espaço mais de fábula que de denúncia realista. Mas tudo isso acaba se encaixando bem com a narração direta e incisiva do autor.

Por fim, as ilustrações da edição, por Pedro Meyer, são incríveis e recontextualizam a leitura, e o projeto gráfico da Antofágica amplifica muito o aproveitamento da narrativa. Foi uma experiência muito boa, em geral :)

August 17, 2022Report this review