6.0
Ambos os protagonistas de Um amor e T??rtaros s??o intrag??veis, s?? que em n??veis diferentes. Drogo (T??rtaros) ?? irritante mas possui uma sensatez, h?? uma ??ncora firmando seu comportamento err??tico. Sua desist??ncia e escapismo s??o elementos mudos, por??m ruidosos. S??o os temas que circundam e fecundam T??rtaros, apesar de nunca diretamente discutidos. J?? Antonio (Um amor) ?? um total bon vivant insensato. Um bon vivant de meia idade que encontra Laide, uma jovem prostituta. Ele se apaixona e acredita que, ao comprar o corpo de Laide, ele tamb??m est?? comprando um acesso a sua alma e portanto passa o livro inteiro se remoendo de ci??mes, como se a mesma n??o pudesse existir para nada nem ningu??m al??m dele.
Eu entendi, ele se v?? um fracasso na vida social e rom??ntica. Eu entendi, Laide representa uma vitalidade e um ritmo do qual ele nunca teve mas sempre ansiou. Contudo, a maior parte do livro gira em torno de Antonio degradando Laide e ao ponto da exaust??o, pois esses momentos n??o s??o usados como ??nfase ou como pontos chaves de desenvolvimento para Antonio, o livro inteiro ?? constitu??do de surtos de ci??mes e, por conseguinte, a tra????o do meio da historia indefere da do in??cio. O que quero dizer ?? que n??o faz diferen??a a hist??ria ter come??ado em alta velocidade, pois ?? como se o meio do livro sofresse da lei da in??rcia: o ve??culo pode at?? estar em movimento, mas os passageiros est??o claramente parados.
A desconfian??a de Antonio nasce na hora zero do livro, e a resist??ncia do autor de focar em qualquer outro aspecto de sua vida, torna-o muito mais desprez??vel e unilateral do que ele precisaria ser. N??o estou dizendo que ele precisava ser redim??vel, e sim que ele poderia ter sido algo um pouco mais perto de um ser humano funcional. Eu gosto como Buzzati brinca com alguns elementos liter??rios, como a incapacidade de Antonio em reconhecer a imagem de Laide em qualquer outro lugar que n??o seja entre quatro paredes, como se todas as mulheres para ele fossem iguais e portanto putas. Por??m, aspectos como este nunca s??o desenvolvidos a fundo e deixam uma impress??o de que poderia ter havido mais. Talvez se Buzzati tivesse apostado em uma abordagem mais m??gico-realista, como em T??rtaros, ele poderia ter explorado um pouco mais estes aspectos e com isso aprofundado melhor Antonio. Aprecio tamb??m a sequ??ncia em que Antonio visita o “Asilo”, contudo acho o final do cap??tulo um completo cop-out e facilmente um dos momentos mais brochas do livro.
Conforme a hist??ria se aproxima do fim, Antonio se torna mais ativo, dando uma cad??ncia melhor ao ritmo do livro. Foram de longe as melhores p??ginas mas a essa altura eu s?? queria terminar a leitura. O realismo naturalista do texto, quase parnasiano, infelizmente me irritou muito. E o ritmo em fluxo de consci??ncia, t??cnica a qual eu geralmente amo muito, conseguiu me afastar ainda mais do texto a ponto de me sentir tentado a passar reto por in??meras linhas. O livro ?? composto de in??meras repeti????es para al??m de desnecess??rias que testaram minha paci??ncia em certos momentos. A melhor experi??ncia que tive com este livro certamente foi quando uma mulher me interrompeu a leitura para me perguntar o t??tulo e sobre o que era, “eu gosto de ler tudo que envolva amor, ?? sobre namoro?” Eu pensei muito antes de responder, “N??o...?” “Porque?” “Porque o livro vai focar em uma obsess??o n??o correspondida.” “Ent??o porque o livro tem amor no nome?” “Porque amor nem sempre significa romance.” Ela parou por alguns segundos para refletir, “N??o entendi.” Admito que eu tamb??m n??o.
8.0
Em T??rtaros, Buzzati constroi uma leitura do tempo. N??o atrav??s de simbolismos mas atrav??s da formalidade do que est?? ao redor. Dos ambientes concretos que circundam Drogo, nosso protagonista, e a maneira na qual ele est?? inserido neste. Drogo n??o interage com o mundo, pelo contr??rio, ele perde esta habilidade nas primeiras p??ginas depois de sair de casa. Por pelo menos um quinto do livro, temos Drogo como uma lupa - ou melhor, uma luneta. Ele ?? capaz de ver as transforma????es (e as n??o-transforma????es) em tudo e todos, menos em si mesmo. N??o porque ele se v?? inc??lume ??s a????es do tempo, e sim justamente porque ele n??o se olha.
H?? quem diga que este ?? um livro sobre paci??ncia, eu discordo. Drogo nunca esperou uma guerra. A partir do momento que ele escolheu ficar, ap??s os quatro primeiros meses, a decis??o de Drogo se tornou muito clara: ele encontrou conforto no h??bito; ele encontrou companheirismo suficiente nos oficiais e ele encontrou ref??gio contra si mesmo nas muralhas. Ou pelo menos foi no que ele acreditou.
Drogo passa o livro inteiro dormente, em um estado marginal. ?? beira de um limbo cavado por suas pr??prias m??os e as m??os dos que vieram antes. Os T??rtaros foram nada mais que a desculpa perfeita para este isolamento compulsivo, para o suic??dio de sua persona, e por conseguinte, seu ego.
A mudan??a que ele ?? incapaz de enxergar em seus velhos amigos cria uma impress??o de que Drogo tenha, de alguma forma, evolu??do emocionalmente. Que ele tenha atingido uma barreira no tecer do pensar dos quais seus conhecidos ainda n??o tenham alcan??ado, quando, na verdade, fora justamente o oposto: Drogo regrediu como homem. E propositalmente afastou-se de si mesmo, n??o como algu??m que passa por uma crise de personalidade, seja man??aca ou depressiva; n??o como algu??m que fora abandonado, seja pelos seus ou pelos “poderes estabelecidos”; mas como um estoico.
Eu acho interessante como eu compreendo Drogo, mas sou completamente incapaz de me compactuar com ele. Assim como Drogo escolheu ser nada, eu escolher n??o ser Drogo talvez seja o sentimento mais latente que tiro deste livro.
9.0
A maneira com a qual Marquez constr??i o universo de maneira paulatina, com descri????es acuradas e realistas para contextualizar o leitor da ordem de eventos e pontos de vista, e a maneira com a qual ele usa essa constru????o contra o leitor na segunda metade do livro, com a reconstru????o do assassinato e dos eventos ap??s o mesmo ?? de uma maestria inigual??vel. Eu segurei minha respira????o pelas ??ltimas dez p??ginas, praticamente.
Minha primeira leitura em espanhol, espero que primeira de muitas.
9.0
Para mim, estes livros pequenos de poesia s??o sempre os mais perigosos - levo uma hora para ler e um ano para destrinchar. Eu fico feliz de n??o ter come??ado aqui e ter passado pela Poesia completa antes, tal experi??ncia foi de suma import??ncia para a (pouco) melhor compreens??o que tive do texto. Interessante notar os paralelos do texto com o que seria o futuro Rimbaud, principalmente o que diz sobre se tornar um viajante.
Senti uma fort??ssima conex??o com a “Alquimia do verbo”. O poema em prosa tamb??m cont??m alguns dos meus poemas em versos favoritos de Rimbaud como A can????o da torre mais alta, Eternidade... e Uiva o lobo na folhagem... Estou desnorteado.
7.5
Zoe ?? um pouco subdesenvolvida na trama, assim como os irm??os Di Angelo. O in??cio em Westover Hall poderia ter tido uma propor????o mais ??pica mas sofre da decupagem econ??mica de Riordan.
Isso n??o ?? exatamente uma reclama????o e mais um ponto em comum que tenho com os livros anteriores. Riordan ?? econ??mico demais em seus textos. O gostinho de quero mais que ele constantemente deixa em seus textos beira o n??o-saud??vel em algumas ocasi??es.
A conclus??o deixa uma boa divis??ria na franquia e define muito bem o n??vel das consequ??ncias que est??o por vir nos livros seguintes.
poemas favoritos
os alumbrados
o adormecido do vale
os corvos
os assentados
os poetas de sete anos
os pobres da igres
cora????o logrado
orgia parisiense
as m??os de jeanne-marie
vogais + a estrela chorou...
as catadeiras de piolhos
o barco ??brio
com??dia da sede
can????o da torre mais alta
eternidade
uiva o lobo na folhagem
les stupra
remembran??as de um velho idiota
8.0
Lido na colet??nea [b:Romances completos|160562588|Romances completos|Corn??lio Penna|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1695571879l/160562588.SY75.jpg|172606808].
At?? onde entendi, um livro que se pergunta sobre a veracidade da f?? em lidar com a extin????o dos males da alma, do corpo, da mente. Eu poderia ter prevenido ser assim? Eu posso deixar de ser assim? Ao pensar que ?? tarde demais, n??o se torna logicamente tarde demais? O quanto a minha crise de f?? me auxiliou em me tornar o que quer que eu seja hoje?
Algumas v??rias passagens me marcaram demais, como as p??ginas 135-136...
De joelhos, com o rosto entre as m??os, e apoiado ao meu leito, revi-me crian??a e lembrei-me da transforma????o que nela se fez, em momentos, e com grande perturba????o de minha alma infantil, quando se deu a mudan??a da luz do g??s para a el??trica, em nossa casa. [...]
J?? observou a voracidade sinistra dos mendigos, em contraste desesperado com a sobriedade dos ricos? Conhece, com certeza, Sinh?? Coura “porque canto no c??ro” como explicam os nossos caipiras? J?? esteve com a mulher do “seu” Z?? J??lio, que tem um cranco enorme aberto em flor, a devorar-lhe a perna, “porque uma mulher de xale preto na cabe??a verteu ??gua atr??s da porta de seu quarto”? E Maria Alvim, que n??o pode costurar, porque a roda de sua m??quina de costura se p??e a gemer com a voz de seu marido? e a porta da C??mara, do lado esquerdo, que n??o se abre porque foi fechada por um fantasma? [...] Vivemos como sitiados, como prisioneiros que se entreolham, raivosos, pressentindo a chegada de uma desgra??a que n??o sabem qual ?? [...]
7.5
Tradu????o, principalmente na reta inicial, tem leves escolhas de adapta????o que achei question??veis? N??o sei se foram coisas da minha cabe??a.
Bel??ssimo texto, extremamente russo no melhor sentido poss??vel. Acho que o ritmo poderia ter ido um pouco mais lento: explorar com menos pressa todas as sequ??ncia de eventos. Eu n??o me importaria nem um pouco de conhecer com um pouco mais de cuidado Guta ou a Monstrinho, por exemplo. S??o personagens cuja hist??ria deveriam ter importado um pouco mais. A cena final teria tido um impacto muito maior do que j?? teve, com toda certeza.
[Trecho encontrado na Introdu????o Geral da presente edi????o do livro]
“Minha m??e era uma figura de constante e misteriosa do??ura, sempre mergulhada em um sonho long??nquo, como se toda ela estivesse envolvida em seu manto de viuvez, de crepe suave, quase invis??vel, que n??o deixava distinguir-se bem os seus tra??os, os seus olhos distantes. Andava pelas salas de nossa casa em sil??ncio, sentava-se em sua cadeira habitual sem que se ouvisse o ru??do de seus passos, e, quando falava, era em um s?? tom, sem que nunca a impaci??ncia o alterasse. A influ??ncia que exerceu sobre os caracteres inquietos e contradit??rios de seus filhos foi intensa, invenc??vel, mas serena e se fazia sentir apenas por intui????o, pela rede m??gica que os prendia, na preocupa????o sufocante de n??o provocar uma nuvem de tristeza que perturbasse o seu olhar altivo e doce, que nos falava com irresist??vel eloqu??ncia. Parecia a n??s todos que um gesto mais forte, uma palavra mais alta, de nossa parte, viria quebrar aquele encanto, e partir o cristal muito fr??gil que a mantinha entre n??s, e viv??amos assustados, retidos pelo medo de agir, de sentir, de viver, de forma poderosa e plena, e assim despert??-la, e poderia ent??o ouvir as batidas de nossos cora????es, agitados pela maldade do mundo. Sab??amos todos, contado em segredo pelas outras senhoras, o r??pido e doloroso drama que a tinha despeda??ado. Tendo casado em Paris, seguira para Itabira do Mato Dentro, e, depois de oito anos de felicidade, meu pai morrera subitamente. Desorientada, tentou refugiar-se junto de minha av??, que ficara em Hon??rio Bicalho, onde estava a minera????o de ouro de minha fam??lia materna, e, na esta????o, soube que ela falecera na v??spera. Quis ent??o ir para junto da irm?? mais velha e sua madrinha, em S??o Paulo, mas esta tamb??m morreu, no mesmo m??s??? e assim se fechara sobre ela uma lousa inviol??vel de ren??ncia e de tristeza, que nunca pudemos vencer, durante tantos anos de sobreviv??ncia. Quando fecho os olhos ainda a vejo, a mesma de todo o tempo, e procuro em seu rosto ou em suas m??os um sinal de paz e de espera. Mas n??o a vejo, e me lamento porque n??o a fiz sofrer sem reservas, porque n??o a fiz chorar todas as l??grimas da maternidade infeliz porque n??o despejei em seu cora????o todo o fel que prendi ferozmente no meu, porque n??o lhe pedi socorro aos gritos, n??o deixei que eles sa??ssem de minha boca, fechada com viol??ncia pelo medo e pela incompreens??o??? e ?? por isso que desejava guardar sua imagem muito pura, muito secreta, e tenho a impress??o de tra??-la, falando sobre ela! - Corn??lio Penna”.
(Dos “Arquivos Implac??veis” de Jo??o Conde. O Cruzeiro, 9 maio 1953)
09 de maio de 2023 - Descanse em paz, Rita.
—
Estudei com o Frank Zappa na Alemanha. [...] Ele era um estudante an??nimo, [...] um colega nosso que sabia tudo e era apaixonado por aquelas coisas todas da vanguarda. [...] Estava sempre com ele eu [J??lio Medaglia], Gilberto Mendes e Duprat, porque ele era um cara que a gente sabia que estava interessado em m??sica popular, em rock etc., mas que tinha forma????o erudita. [...] A?? o Zappa foi para os Estados Unidos e poucos anos depois eu vejo Frank Zappa e o Mothers of Invention. Levei um susto.
– J??lio Medaglia
8.0This felt, in a lot of ways, like a British [b:At Swim, Two Boys 96200 At Swim, Two Boys Jamie O'Neill https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1439613291l/96200.SX50.jpg 956105]. Which reminds me I need to re-read that one as soon as possible. Alice nailed it, specially for a first time writer, gonna definitely keep an eye out for her.
8.5
Fui pego com as cal??as arriadas. Para algu??m que n??o teve uma experi??ncia l?? t??o satisfat??ria com Cosmos, eu temi o que poderia vir com Pornografia. Quando vi a progress??o das primeiras p??ginas, a proximidade com a abordagem que ele teve em Cosmos, eu senti por um momento que eu acabaria tendo a mesma experi??ncia toda de novo.
Eu acho que o que faltou em Cosmos foi uma ??ncora. Uma presen??a irrevog??vel que conduzisse a apresenta????o, que fizesse ela merecer ser o que ??. Pornografia me teve isso. Um pastoral invertido, o uso do id??lico contra si mesmo. ?? WWII, o mundo inteiro est?? em guerra e o pa??s est?? em processo de posse do Terceiro Reich. Ningu??m fala mais nada em linhas retas com ningu??m e todos os sentimentos s??o engarrafados. Neste universo de desconfian??a, pensamentos corroem at?? a mente mais s?? - se ?? que Fryderyk e Gombrowicz alguma vez foram s??os.
A voz de Gombrowicz (personagem) em Pornografia ?? conspiradora, assim como em Cosmos, mas aqui ela deixa acontecer. Em Cosmos, um gesto interrompia a hist??ria por p??ginas seguidas para falar das mesmas coisas que haviam sido ditas dez p??ginas atr??s (em uma outra inst??ncia de interrup????o da hist??ria), era realmente exaustivo. Digo o mesmo nos aspectos com??dicos, sard??nicos e at?? os elementos repetitivos: todos possuem um equil??brio muito maior, gerando uma for??a incomensur??vel no texto. Servindo a si mesmas como um meio de chegar ?? uma ant??tese, uma contra hist??ria.
A variedade de elementos em cena s??o grandes e existe um pano inteiro conspirando, ou n??o, para os eventos naquela fazenda. ?? sobre o abusa da paz, do que ?? sereno. Trata de trazer a sujeira, a imundice adulta para (dois jovens) avulsos. ?? sobre estragar o que podia haver de mais puro, ou n??o. ?? sobre a d??vida no que os (jovens) est??o pensando, fazendo, se est??o dentro da perversidade, ou n??o. ?? sobre renegar as rugas e conspirar contra o novo, torn??-lo rugoso tamb??m, ou n??o. ?? sobre a busca por l??gica nos gestos que moveram o mundo durante aqueles anos t??o perturbados, t??o dilu??dos de sentido, ou n??o.
Enfim, fico muito satisfeito em dizer que Pornografia entregou exatamente aquilo que eu procurei t??o veementemente em Cosmos e que essa experi??ncia me deixou muito animado para um dia ler Ferdydurke.
Lido pela colet??nea [b:Quintanares|129912719|Quintanares|Mario Quintana|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1681354905l/129912719.SX50.jpg|67848707].
Favoritos: III, XIII, XX, XXVII, XXIX, XXXV
O cara era realmente t??o bom que chega a ser injusto, quase chorei no ??ltimo poema.
5.0Eu gostaria de ter gostado mais, infelizmente eu n??o me conectei com o texto. Ou melhor, me conectei mas a estrat??gia desgastou rapidamente. A repeti????o deixou de ser enf??tica e come??ou a insistir em si mesma de uma maneira que eu nunca havia visto antes. ?? claro, ?? tematicamente conectado com o prop??sito da narrativa: super-analisar as coisas, se esfor??ar em tentar tirar informa????es de dados n??o conectivos; infelizmente para mim nada disso se justificou.A voz de todos os personagens s??o extremamente incaracter??sticos e injustific??veis como quem n??o p??s esfor??o em desenhar a personalidade de cada. (E isso n??o sou eu dizendo que Gombrowicz n??o p??s esfor??o na escrita, ?? bem not??vel que o oposto ?? fato, e sim que sinto como se ele tivesse se esfor??ado nos detalhes que menos importaram.) Todos soam como a mesma pessoa. O fato de que o texto descritivo e os di??logos n??o parecem se desconectar de um ao outro, para mim, fez mais um desservi??o do que o contr??rio, pois deixou explicita o quanto a voz do autor invadia a mente de seus personagens, o quanto eles existem n??o em prol de si mesmos mas em prol do texto.?? claro, h?? quem justifique dizendo que todo o corpo do texto ?? deturpado pela vis??o de Witold, o protagonista, que a voz dele permeia cada canto do livro e que ?? isso o que gera a atmosfera “n??o confi??vel” do texto. H?? quem diga, ainda, que o Witold do livro ?? o Witold autor e que a mesclagem entre a voz e o texto, o narrador e o autor, s??o propriamente uma s?? voz. Contudo, eu n??o consigo comprar tais justificativas: para mim, o problema do texto mora em sua apresenta????o, em sua estrutura. Em sua incapacidade de ser mais do que as palavras pince-nez, pardal, l??bios, boca e pendurado repetidas, cada, pelo menos uma vez por p??gina.Quando os eventos come??aram a ficar interessantes, que no meu caso foi a partir do gato, j?? haviam passado 90 p??ginas de absoluto nada. Um nada absolutamente inatraente, at?? os momentos de humor me passavam batidos: eu s?? queria que o livro acabasse. O que irei dizer a seguir ser?? mais criminoso ainda, mas eu realmente acho que o texto poderia ter umas 100 p??ginas a menos. Que se a voz do Witold (protag.) fosse mais calculada e que se o texto de Witold (aut.) fosse mais econ??mico, o livro diria muito mais com menos e teria me alcan??ado com muito mais vigor. Apesar destas cr??ticas, este ?? um livro que recomendo. Os momentos fortes s??o maravilhosos, alguns at?? estonteantes de bem escritos (um dos meus favoritos foi a jornada mental de Witold sobre o que ser?? que ele procura em Lena, at?? chegar a conclus??o de que talvez ele s?? queira cuspir em sua boca [pg. 96-97]), e eu sinto que por mais que o livro “falhe” em me atrair pelos excessos de descri????es, os movimentos err??ticos de tudo e todos no livro comp??e cen??rios maravilhosos. N??o somente isto, como tamb??m acredito piamente que Cosmos ?? uma leitura extremamente ??nica. Eu prefiro que algu??m leia e descubra que n??o gostou do que algu??m nunca ler e deixar passar o que poderia ter se tornado um de seus livros favoritos.O diretor de cinema Andrzej Zulawski, antes de falecer, fez seu primeiro filme em mais de uma d??cada sumido, adaptando Cosmos. Eu ainda hei de assistir mas sinto que, do pouco que vi, ele conseguiu extrair o que senti que h?? de melhor no texto. Apesar dos constantes emaranhados de nada, h?? in??meras imagens extremamente evocativas no livro. Algumas das quais sinceramente a melhor forma de imagin??-las seria em alguma forma de estado on??rico (ler quase dormindo, talvez?). Enfim, deixei essa informa????o s?? para caso algu??m leia at?? aqui.No fim das contas, Cosmos ?? um livro que tinha tudo para que eu o tivesse gostado. Eu realmente me sinto mal em ter sa??do com uma experi??ncia t??o amarga. O pior de tudo ?? que eu consigo enxergar em meus problemas com o texto, os pontos do livro: Cosmos ?? um livro sobre nada, Cosmos ?? um livro sobre obsess??es, Cosmos ?? um livro sobre excessos. E mesmo estando ciente disso tudo, sinto que mesmo assim, saio como se Witold n??o soubesse bulhufas do nada que ele quis falar sobre.Adendo: Acho importante ressaltar que a tradu????o ?? excelente e que ?? bem percept??vel que, em v??rios momentos, tentaram manter um pouco da r??tmica estranha que tem o texto original. Eu conversei com um amigo polaco sobre algumas passagens do livro e cheguei a conclus??o de que este ?? um livro que com certeza deve render um efeito diferente em polon??s. Witold claramente o escreveu com sua l??ngua materna em mente, [b:e eu serei o ??ltimo a atirar uma pedra em casos assim. 3280430 Lavoura Arcaica Raduan Nassar https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1483347973l/3280430.SX50.jpg 3316740]
8.0
O livro pesa a m??o em certos momentos com mensagens que poderiam ter sido discutidas de maneiras menos “agressiva” ou, pelo menos, terem sido abordadas com uma precis??o maior. Com um escopo maior em mente, uma certa progress??o e constru????o da ideia ao longo da narrativa - Como o pesadelo “do cachorro do outro lado da cerca”. Ou melhor, essas ideias s??o discutidas de maneiras mais t??teis ao longo do livro! Contudo, elas s??o abordadas em outras conversas, em outros sonhos, outros gestos... Aonde quero chegar com isso ??: O sonho com “o cachorro do outro lado da cerca”, por exemplo, poderia simplesmente n??o existir e ainda assim o livro abordaria as mesmas conversas (Atrav??s do Bol??o, atrav??s de Marta Rocha, atrav??s de Beatriz).
Uso esta passagem de exemplo porque eu entendo perfeitamente a ideia da “perda de inoc??ncia” contida em todos os aspectos do sonho: a ideia da transgress??o, de presenciar aquilo que n??o devia, do sexo - e principalmente, o sexo sujo: talvez at?? uma forma de discutir ass??dio? Contudo, a maneira como veio, como foi dita e como se foi (sem nunca mais voltar) me passou uma sensa????o muito maior de desservi??o do que o contr??rio. Foi um cen??rio que veio com uma intensidade grande demais em um momento que ainda carecia de constru????o...? Acho que esta ?? a melhor forma que tenho de explicar.
Ignorando essa quest??o, no entanto, Persegui????o ?? um livro realmente belo. A romantiza????o de Juv??ncio filtrada pela imagina????o aventuresca do narrador ?? muito bem “escondida debaixo do nariz”. Um livro sobre a tend??ncia juvenil de “cinematizar” a vida e se perceber n??o protagonista de sua pr??pria hist??ria. A morte do encanto ?? por esmagamento: o peso de in??meras realidades ineg??veis. Ifig??nia diz que algu??m s?? se torna adulto quando seu cora????o se despeda??a em um mont??o de pedacinho. Persegui????o ?? a reconstru????o do dia em que o cora????o do narrador se despeda??ou e dos primeiros est??gios de sua busca por esses pedacinhos - busca, esta, que sabemos bem o quanto nos custa.
10
Ai do mundo, pelos esc??ndalos, pois ?? necess??rio que venham esc??ndalos; mas ai daquele homem por quem o esc??ndalo vem.
Depois de ler que Veiga atestou que este livro foi escrito antes do Golpe de 64, tentar pens??-lo fora da Ditadura se provou uma quest??o muito mais interessante. N??o somente por desprender as amarras do livro a uma ??poca espec??fica mas tamb??m pela complexidade de novas possibilidades e combina????es aleg??ricas que essas desamarras provocam.
?? imposs??vel desfazer as conex??es ditatoriais e mandonistas do livro, elas s??o presentes desde as obliquamente opressivas primeiras p??ginas. Mas ?? imposs??vel tamb??m desfazer estas conex??es quando falamos sobre a hist??ria do Brasil.
Eu sinto que Veiga n??o quis falar somente de coturnos, mas tamb??m de gravatas. De uma moderniza????o for??ada e, principalmente, da descomunh??o que se segue no rumo ?? urbaniza????o. Do cada um por si que se d?? quando algu??m se pega no fluxo de uma mudan??a que n??o parece acabar nunca. Do medo que h?? em se tornar v??tima, ou pior, c??mplice. E que apesar de todo o resguardo, precau????o e aviso: A tormenta sempre chega e ningu??m nunca est?? realmente preparado.
Eu acho muito importante notar que a primeira “tormenta” vem e volta de onde veio. Ela ?? amig??vel, af??vel, cheira tudo - como se procurasse algo -, enquanto marca territ??rio at?? na igreja. Se der mole, ela entra na tua casa e revira tudo mas como uma boa companhia. N??o ?? como se fosse pro seu bem, mas tamb??m n??o quer seu mal: s?? est?? passando, curiosa.
A segunda “tormenta” ?? sem volta, ela chega. Ela chega e parece que n??o vai, mas ela t?? indo. E n??o t?? indo de volta pra onde veio, ela t?? simplesmente indo. E ?? tudo muito vago, parece que a tormenta n??o tem fim nem come??o, como se fosse um mar quando vista do alto: ?? s??rio que existem tantos desses no mundo? Atravanca a vida do povo, enlouquece alguns e at?? mata outros. Enche as ruas de merda e mijo, mas isso d?? pra limpar.
O que n??o d?? pra limpar ?? a confus??o na cabe??a de quem fica, de quem viu. De quem fez o que n??o queria fazer, de quem fez o que n??o sabia que tinha coragem de fazer e dos que fizeram porque queriam e agora n??o tem mais como se esconder, n??o tem mais pra onde ir. Na chuva, a lama e a merda vira uma s??. E quando o sol sair, que secar aquela soca; que ela endurecer e virar poeira, ela ainda h?? de tomar os m??veis, o ch??o, os objetos. Am??ncio n??o tem vergonha na cara, vai chegar o dia em que ele ainda vai ter de pedir licen??a aos ratos para entrar na venda. Mas Manuel n??o ?? de deixar isso acontecer: ele apanha vassoura e ??gua, borrifa o ch??o para n??o levantar poeira e come??a a limpeza.
7.5
Though it struggles at times, specially regarding the way it handles the childhood sessions, when it lands it lands. It's also a type of book that only makes sense/connects its dots after you finish it. It has a whole internal cycle to it that is really beautiful, but like all books of its kind: it ends leaving a lot hanging and I'd be lying if I said that type of stuff didn't get to me. Still, the writing is so strong (even at its weakest moments) and feels so biographical (to the point where I was unsure if I was reading a fiction or not) that it just carries you along if you allow yourself to it. Also, I felt like reading something other than Three Kingdoms, hehehe.
Favorite stories: “The Diarist”, “My Brother in the Basement”, “The Universe, Concealed”