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Qual o limite da vingança? Esse é um dos dilemas de O Morro dos Ventos Uivantes, obra-prima de Emily Brontë que mescla amor, ódio e obsessão, publicada agora em formato de bolso. Certo dia, o patriarca da família Earnshaw volta para casa ao lado de quem nunca poderiam imaginar: uma criança. O garoto ganha um nome, mas o sobrenome da família permanece inalcançável. A partir de então, sua vida adquire contornos trágicos, que, embalados por um romance reprimido e um constante desejo de vingança, marcarão não apenas a existência de Heathcliff, mas futuras gerações. Narrada ao pé de uma lareira por Nelly, a criada da família, O Morro dos Ventos Uivantes instiga o leitor, fazendo-o devorar as palavras. Uma história que desafia costumes, barreiras e, principalmente, o tempo. Como apoio e contextualização para a leitura, toda a coleção Nano traz um QR Code que, ao ser escaneado, direciona para um portal de leitura dos textos extras. Neste livro, disponibilizamos um texto de apresentação de Ju Cirqueira, criadora do canal do YouTube Nuvem Literária, além de posfácios de Sofia Nestrovski, mestre em Teoria Literária pela USP e roteirista e colocutora do podcast Vinte mil léguas (Revista 451), e Daise Lilian, doutora em Letras (UFPB) e professora da Universidade Federal de Campina Grande.
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Resenha do blog Sincerando.com, escrita por Sarah Sindorf
“Seja qual for a matéria de que as nossas almas são feitas, a minha e a dele são iguais, e a do Linton é tão diferente delas como um raio de lua de um relâmpago, ou a geada do fogo.”
Um dia o sr. Earnshaw, pai de Hindley e Catherine, volta de uma viagem com um magro menino à tiracolo que vagava pela cidade, e o traz para casa para ser lá ser criado, o nomeando Heathcliff. Ele acaba se afeiçoando muito ao menino, que fez logo amizade com Catherine. Mas, nem tudo vai bem, e graças ao seu forte gênio e orgulho acaba fazendo grande inimizade com Hindley e os criados da casa. Hindley, se sentindo preterido em relação a Heathcliff, maltrata muito o menino.
Poucos anos depois, o pai morre, e Hindley, que estudava fora, retorna ao lar. Com isso, a posição de Heathcliff, de menino sendo educado e brincando de igual para igual com Catherine, cai para um simples trabalhador da casa, com a educação sendo cortada. Separados por Hindley e pelo orgulho dos dois, Heathcliff e Catherine se afastam cada vez mais. E a amizade e amor de infância se transformam em obsessão, mágoa e vingança na vida adulta.
Meu primeiro pensamento para esse livro: não é um romance, não no sentido romântico. Consegui duas citações extremamente românticas, mas esse não é o foco. Heathcliff e Catherine são pessoas de mau gênio, e de certa forma, cruéis. Zombam das pessoas que, diferentes deles, são gentis e corteses, não se mostram muito educados e tem um orgulho gigantesco. Não consegui achar nenhuma característica agradável neles, infelizmente.
A amizade dos dois é imensa, na infância, mas conforme eles vão crescendo as diferenças acabam separando-os. Heathcliff é rebaixado em casa, e Catherine se interessa mais em agir como uma dama para os outros do que a moleca que sempre foi. Isso tudo, juntando o interesse do vizinho por ela, acaba fomentando uma catástrofe.
O livro lida muito com as questões sociais (a criança pobre que acaba não sendo educada e trabalhando nos estábulos, o casamento entre famílias visando a união de bens e ascensão social), e de certa forma também com o preconceito. Heathcliff foi tratado mal desde o começo graças ao fato de não ter origem e, por que não, por ser arredio e defensivo. Desconheciam seu sobrenome, seus parentes, suas posses. Se fosse o órfão de uma família com dinheiro, seria tratado diferentemente.
Catherine, por outro lado, é uma criança normal, que gosta de explorar, pregar peças, se divertir. Mas como futura dama, é punida por essas coisas. E por outro lado, é mimada, o que a torna insuportável com as pessoas. Não pude deixar de pensar que num mundo atual, o amor deles seria mais que possível, e eles possivelmente seriam pessoas melhores.
Gostei muito da escrita, mas não é um livro fácil de ler. Se alguém falasse comigo, eu me perdia na frase e precisava recomeçar. É uma leitura profunda, complexa, para se ler com atenção. Infelizmente comprei uma edição sem orelhas, mas pelo menos as páginas eram amareladas e a fonte confortável. De um modo geral gostei do livro, e indico para aqueles que gostam de uma leitura “histórica”, pois o livro se passa em 1801, com flashbacks do passado.
Para quem não sabe, a autora morreu em 1848, de tuberculose. “O Morro dos Ventos Uivantes” foi seu único romance publicado, com o pseudônimo Ellis Bell. O livro pode ser encelaontrado de graça, em inglês, no Domínio Público.
Link: http://www.sincerando.com/2014/02/o-morro-dos-ventos-uivantes.html