
A mudança de coração da personagem principal ficou meio rápida demais, não ajudou muito na suspensão de descrença... o cara claramente quer a mocinha, mas ela muda de receosa para super interessada muito rápido. Ainda assim, foi uma boa leitura e mostrou muito bem que uma mulher pode ter uma carreira incrível e também ser amada.
Apesar de gostar dos personagens e da história como um todo, fiquei com a impressão de por boa parte da trama a história ficou “enrolando” para chegar ao final, na metade eu já tinha entendido que os personagens se gostavam e tudo o que precisava ser “encaixado” na trama poderia ter se resolvido de forma mais rápida. Cheguei cansada no final e não tenho certeza se fiquei tão satisfeita assim com as soluções para eles ficarem juntos.
The Faerie Games é o primeiro livro do novo “braço” da série de Dark World, mas pode ser lido de forma independente e isso não atrapalha no desenvolvimento da trama - eu, por exemplo, ainda não li Vampire Wish e Angel Games, as outras histórias de Dark World.
A personagem principal nesta série é Selena Pearce, uma garota se sentia um fracasso porque não conseguir fazer sua magia aflorar. Ela é a única em Avalon que não consegue usar seus poderes, então quando sua melhor amiga lhe prepara uma poção especial, ela está mais do que disposta a ter sua própria aventura, mas nada sai completamente como o planejado e ela se vê enganada por Julian, um personagem repleto de nuances interessantes, e levada a competir nos Faerie Games, uma competição mortal ao estilo dos Jogos Vorazes. Selena é uma personagem interessante e com bom desenvolvimento ao longo da trama, literalmente jogada no meio de uma situação extrema, ela consegue encontrar sua força e não perder completamente o controle para conseguir voltar para sua família em Avalon.
Com muito personagens e repleto de segredos e ação, a trama segue um ritmo rápido e seus acontecimentos bem entrelaçados fazem com que a leitura flua de forma muito satisfatória. Não há um momento em que a história se perca no ritmo frenético (e isso me deixou bastante surpresa), o que faz com que o leitor sempre queira mais cenas e mais ação e mais dos personagens - o que faz com que a chegada até o final da história seja, também, uma surpresa. Há, é claro, o surgimento de um romance entre Selena e Julian, ainda que a protagonista tente a todo custo adiar o outro personagem - e isso ainda não me convenceu completamente porque os dois simplesmente não têm tanto tempo juntos para que algo a mais brote, mas vou esperar o próximo voluma para falar mais sobre o relacionamento desses dois.
Uma das melhores coisas neste livro é a mistura do mundo das fadas com a mitologia romana. Já faz algum tempo desde o último livro que li da Michelle e seu amadurecimento como contadora de história fica muito claro na construção desse universo. Os detalhes estão muito bem organizados e essa competição das fadas, bem ao estilo mata-mata com um toque de reality show cheio de apostas a todo momento, é, para mim, uma das boas surpresas deste ano. Por fazer parte do universo de Dark World, há, é claro, referências aos acontecimentos anteriores, mas não senti senti que fui prejudicada por não ter lido as outras histórias - alguns personagens, que deveriam “reaparecer”, para mim foram completamente novos, mas até aí, nenhuma problema.
Não há, realmente, nada novo no sentido estrito da palavra, mas o enredo e os personagens realmente conseguem envolver, talvez o que tenha me incomodado um pouco é um possível spoiler ou um desvendar de segredo que será feito no próximo volume, mas posso estar fazendo suposições erradas, por isso não me alongarei mais neste tópico. O gancho no final foi muito bem colocado e abriu a oportunidade para vermos alguns passos a mais no desenvolvimento da imagem geral.
Para um começo de série, The Faerie Games não deixa nada a desejar. Suas cenas são bem desenvolvidas e seus personagens possuem muito potencial, o que me deixou bastante empolgada. Além disso, seu epílogo apareceu para colocar mais fogo na fogueira, então mal posso esperar para o próximo volume!
Ainda dentro do meu cronograma de postagem de resenhas que demandaram duas leituras para serem escritas, hoje é dia de te contar um pouco sobre como foi a minha experiência com A Contrapartida, livro de estreia de Uranio Bonoldi. Depois de receber o exemplar da editora Valentina e ler pela primeira vez, muitos pontos da trama me deixaram insatisfeita com a leitura - tinha a impressão de que tinha lido tudo muito rápido e que provavelmente alguma coisa tinha passado e eu não tinha percebido -, o que me levou a escolher reler depois de algum tempo. Esta resenha, então, reflete minha experiência com a segunda leitura.
Nesta história conhecemos Octávio Albuquerque Junior, Tavinho, que sempre teve uma boa vida com sua família e amigos lhe dando apoio, mas tinha muita dificuldade para aprender na escola e por isso sofria bullying dos colegas. Temos também Iaúna, índia de uma tribo extinta, que tem sua vida marcada pela violência até que uma mulher visita sua tribo e a leva para a cidade, onde ela passa a trabalhar (e assim conhece Tavinho, filho de Cristina, sua patroa). Com pena do garoto e querendo ajudá-lo a realizar seus sonhos, Iaúna lhe propõe fazer um ritual antigo de sua tribo, que poderia lhe ajudar na aprendizagem, mas que leva ingredientes nada convencionais. Tavinho precisa então decidir se está disposto a fazer o que for necessário para ser o que deseja.
Dividido em quatro partes e narrado em terceira pessoa, a trama possui uma fluência interessante, pois perpassa diversos momentos da vida do personagem principal, o que nos possibilita conhecer mais sobre a história dele, de seus pais e de Iaúna. Para mim, essa abundância de passagens foi uma escolha arrojada, mas me pareceu que o autor perdeu um pouco as rédeas da narrativa em alguns momentos, pois em diversas partes precisei reler [uma, duas, três vezes] para entender o papel da passagem na trama porque a sensação era de que estava solta no meio do todo. Isso também vale para algumas situações com diálogos extensos e trechos repetitivos, onde o recontar de fatos já contados faz com que o ritmo de leitura diminua significativamente. No entanto, isso não significa que a história não entretenha e prenda em sua maior parte, apenas que não funcionou completamente para mim.
Ainda que eu não tenha realmente me conectado com as personagens (e isso é mais uma questão de momento de leitura do que outra coisa), é visível que seus personagens foram muito bem trabalhados e caracterizados durante toda a trama. Iaúna é, sem dúvidas, minha personagem preferida, mesmo que as questões morais envolvendo Tavinho sejam um ponto alto da trama e instiguem o leitor a pesar suas próprias questões, é Iaúna quem abre essa porta para o protagonista (e isso é bastante significativo ao meu ver).
Antes de terminar este texto, não posso deixar de salientar que a história é sim bem desenvolvida. O autor consegue colocar o leitor perto do personagem a todo momento e fazer com que ele (o leitor) passe boa parte da trama preocupado com as escolhas de Tavinho e se perguntando o que faria se estivesse no lugar do personagem. As noções de ética e moral são bem desenvolvidas e problematizadas e me parece que este é o ponto alto da história: nos levar a pensar nossas bases, nos questionar até que ponto conseguiríamos ir para realizar nossos sonhos. Ao acompanharmos Tavinho em sua jornada repleta de surpresas (e desfecho inesperado) e vermos qual o preço a pagar para alcançar certas coisas, conseguimos entender o peso (ou seria poder?) das escolhas que fazemos.
Nesta história vemos Hayley, uma adolescente que está tentando se acostumar a frequentar uma escola normal depois de cinco anos viajando pelo país com o pai, tentando sobreviver às aulas e aos desafios que sua vida familiar lhe impõem. Além da personagem principal temos, como personagens extremamente significativos para a trama, seu pai Andy, sua melhor amiga Gracie e o nerd Finn. Nenhum desses três personagens têm o que chamaríamos de vidas comuns - o pai sofre de transtorno de estresse pós-traumático; a amiga tem problemas familiares; e o garoto guarda uma série de segredos.
O que mais tem me interessado nos livros jovem-adulto de ficção realista é a voz de seus narradores, por ser uma ficção realista (e eu nem sei se nós chamamos assim aqui, mas está valendo), problemas contemporâneos são examinados e questionados em suas linhas. Nossa narradora aqui é Hayley, uma adolescente cínica, mergulhada até os cabelos em uma situação dolorosa e que lida com o que é preciso a partir de uma significativa dose de autopreservação [que beira ao exagero (mas faz sentido)]. Ela tem zero esperanças em relação à humanidade e chama de zumbis os adolescentes que frequentam a escola com ela. Desde a primeira página sua voz mostra o tipo de pessoa que ela é: inteligente, sarcástica (ou ácida), desiludida e sem paciência para os dramas comuns da idade.
Hayley traça uma linha divisória entre ela e as outras pessoas. Seus pensamentos sempre acabam em reflexões sobre os dramas adolescentes e sua falta de sentido - ela se recusa a gastar energia com isso. Fiquei surpresa (e em alguma medida, encantada) com a construção da personagem, Laurie Halse Anderson não poupa nada na forma de mostrar a perspectiva de uma adolescente sem esperanças e com uma carga tão grande de medo [por seu pai e por si mesma] que não sobra espaço para mais nada.
Esse foi um dos problemas para mim durante a primeira leitura: por ter passado pela adolescência de forma tão distinta da vivida por Hayley e por estar envolvida com outro tipo de preocupação, não consegui me conectar direito com seu sofrimento. Quando reli (talvez por conhecer a história), os sentimentos foram diferentes e minha conexão com a personagem também. Se toda sua acidez me irritou um pouco na primeira leitura, na segunda consegui [finalmente] perceber que embaixo de toda sua fachada de durona havia medo e dor.
Um elemento essencial para o enredo são os flashbacks. É pelos flashbacks que o pai dela tem da guerra que vemos não só a experiência e trauma dele como soldado, mas também o sofrimento dela. Hayley cresceu sem sua mãe biológica, foi abandonada na infância e teve que ser a figura de adulta responsável quando o assunto era seu pai, então obviamente reprimiu todo seu trauma. Então durante todo o tempo ela precisa lidar com duas bombas prestes a explodir: suas feridas profundas e o humor de seu pai. E esse, para mim, é o ponto alto da trama, mas do que um romance que surge entre a protagonista e o garoto nerd, mais do que a amizade com traços complexos entre ela e Gracie, é a representação de uma adolescente bagunçada, mas extremamente forte, que torna este livro o que é: perturbadoramente comovente. Seu final é um pouco falho, mas história é sobre ela e é Hayley a que mais merece ter indícios de um futuro melhor e mais colorido.
Me parece que o tom desta resenha ficou um pouco estranho, então vou falar um pouco sobre o romance para terminar o texto mais leve. Hayley e Finn tiveram um relacionamento interessante, sua construção foi num ritmo delicado. As brincadeiras sarcásticas entre eles cumpriram bem seu papel de entreter e suas conversas mostraram quão bem foi o desenvolvimento dos dois no decorrer da narrativa.
No final, estou satisfeita. A história me fez pensar muito sobre questões familiares em um nível diferente do que me acostumei a olhar e a pensar a memória e seu [não-]lugar nas nossas vidas.
Resenha postada originalmente no Blog Doki Doki.
I had the chance to read Kingdom Cold for #KingdomColdTour and after reading, I'm very happy to have embarked on this story - and the tour. This is one of those cases where the plot is a pleasant surprise.
In this narrative, we follow the story of Princess Charlotte, a teenager who finds herself forced into a marriage arranged with a prince, Young, so that her kingdom has chances to prosper. And of course, to improve the scene, we have Young's brother, Minseo, who is swayed by the girl, and a devastating war that will not bring a favorable future for any of these characters.
Charlotte was an annoying character at the beginning (even with all the marriage drama, it was hard to really like her in the first few chapters), but her development was fantastic - if she starts out as a spoiled and impulsive princess, having her kingdom invaded begins to change her into a more focused and strong version os herself. Seeing her growth made me proud, yet my favorite character will always be Prince Young.
Young had two facets - the serious and focused and the hopeful and dreamy (which appeared little) - and at the beginning, he took a thump when meeting his unwilling bride. His loyal personality and actions are the perfect ingredients for a good character. I was surprised (and happy!) to see how much he was delighted [and open] to his bride and the differences that were between their realms. He and Minseo are completely opposite, their personalities are totally different - which is great.
Minseo is a great character. His cheerful and “carefree” nature exudes from his pores, but it is not only from great smiles that he is made. There is so much to see of this character that I am happy to know that there is a sequel [its release will be in June] with him as the main character. It is more than obvious that he and Young love and blindly trust each other, and this is one of the most beautiful things in this plot - which made me wish for a minute that its pace was a bit milder for us to have more time with them.
The rhythm of the plot would not let me rest until I figured out what would happen in the end, each chapter had something that made me run to the next, and the amount of action and plot twists made it hard to guess what would happen on the following pages, mainly because all the relationships here are complicated, and left me breathless. Which leads me to comment that, because it is a quick plot, the feelings are fleeting and also change quickly (and that does not mean that we have an instant-love). Regarding the main couple, their relationship turns out to be mature and become solid and deep (and it is beautiful).
What really impressed me in this story was how the author managed to build a world so rich in diversity and thematic and to create characters capable of growing and having deep and real relationships. The plot is short, but it has a lot of action, drama, mystery, and romance, it treats the pains of war and loss in a sensible and real way, it shows what true love is and how much someone is able to sacrifice for another person, and it ends leaving a good feeling. Its target audience is young, but the plot is not childish, on the contrary, it is brave, substantial and more real than any happily ever after.
Adorei a história. Theo é muito doce desde o começo e seu personagem é bastante consistente. Ruby é uma personagem interessante, seu temperamento geralmente suave trouxe uma surpresa em certo momento da trama e foi interessante a forma como isso se desenvolveu em outras ações que levaram a outras coisas. Um ponto fora da curva, na trama, no entanto é a volta do pai de Ruby, que fica sem maiores explicações e ninguém mais toca no assunto. De forma geral, é um romance doce e agradável, com a dose certa de quase tudo.
A história inteira foi na base do “não, não posso, é errado, mas tão bom que vou fazer de novo”. É claro que os dois, Bron e Sorin, serem tão >>>solícitos<<< para ajudar Kayla é uma coisa boa, mas fica exaustivo voltar uma e outra vez a discussão dos dois homens sobre compartilhar ou não a mesma mulher. O final é bonito, no entanto - na verdade, a partir de um encontro peculiar perto do final, tudo fica mais interessante e com ritmo mais rápido.
Demorei quase um mês para terminar de ler porque os primeiros 4-5 capítulos demoraram pra me interessar realmente. As cenas entre o casal são bem descritas e como todo bom instalove, é tudo bem rápido e quente. Senti o final corrido, no entanto, e algumas coisas no último capítulo poderiam ter sido mais elaboradas, mas vale a leitura.
Merged review:
Demorei quase um mês para terminar de ler porque os primeiros 4-5 capítulos demoraram pra me interessar realmente. As cenas entre o casal são bem descritas e como todo bom instalove, é tudo bem rápido e quente. Senti o final corrido, no entanto, e algumas coisas no último capítulo poderiam ter sido mais elaboradas, mas vale a leitura.
Sempre espero mais ou menos a mesma coisa quando começo a ler um romance de época - a mocinha e o mocinho irão se apaixonar, mas por alguma razão [geralmente motivada ou causada pelo mocinho], eles terão que atravessar certos empecilhos para finalmente ficarem juntos para sempre. Em Desejo e Escândalo este tipo de enredo se repete, trazendo detalhes que surpreendem, no decorrer da leitura, quem está acompanhando a história.
Para você não ficar sem saber sobre o que trata o livro, em breves linhas temos dois personagens Mick Trewlove e Lady Aslyn Hastings. Mick é o filho bastardo do Duque de Hedley, que trabalhou muito para sair da lama e conseguir ter dinheiro o suficiente para que sua mãe adotiva e seus irmãos pudessem ter conforto e trabalho em suas vidas e que quer, finalmente, ser reconhecido como herdeiro do Duque a qualquer custo. Para isso ele monta um plano simples: se aproveitar da fraqueza pelo jogo que possui o Conde de Kipwick, o outro filho (e herdeiro) do Duque, e tirar, uma a uma, as propriedades que deveriam ser de Mike se ele fosse o reconhecido como primogênito e também, no meio do caminho, roubar a noiva de Kipwick. Simples, fácil e até mesmo rápido. No entanto, Mick não contava que Aslyn seria uma moça encantadora e nada parecida com Kip. E quanto mais ele vai conhecendo Aslyn, mais passa a realmente querer ficar com ela depois de tirá-la do Conde. Mas eles não poderiam realmente ficarem juntos por pertencerem a classes diferentes, ela a nobre filha de um Duque e ele um rico empresário burguês (é aí que o reconhecimento como herdeiro o ajudaria, também). Temos então dois problemas, a vingança de Mick e a impossibilidade dos dois ficarem juntos. É ao redor disso que as cenas do enredo irão circular.
Gosto muito da sequência de fatos que Lorraine Heath faz em suas histórias, uma ação leva a outra e a consequentes mudanças de pensamento e sentimento, de forma que a construção do romance entre os dois personagens principais foi crível - Aslyn não sabia dos planos de Mick, por isso caiu de amores com muito mais intensidade e sinceridade do que ele, mas ao terminar a leitura fiquei com a impressão de que os dois estavam em pé de igualdade no relacionamento e com um amor impossível de se medir.
A construção de Mick faz jus ao que era esperado de seu personagem. Um homem forte, duro nas “bordas” e marcado pelo rancor de um passado do qual não tem nenhuma culpa, é uma vítima. Mas muito mais do que isso, Trewlove possui uma capacidade avassaladora de amar - ele ama sua mãe adotiva e seus irmãos sem nenhuma reserva, ele passa a amar Aslyn de forma real e completa por ver os pequenos detalhes dela que, pelo comodismo, passam despercebidos por Kip. Ainda que em alguns momentos eu tenha morrido de vontade de estapear a cara bonita dele por não contar a Aslyn as coisas que estavam acontecendo sem que ela soubesse, entendo o passo os acontecimentos e a espera vale a pena por trazer cenas incrivelmente doces e delicadas, dignas da época, com a sedução que ele empenha em diversos momentos.
Aslyn é uma personagem interessante, sua capacidade de bater o pé pelo o que quer sem perder a postura que uma Lady deve ter foi uma grata surpresa. Aslyn é muito delicada, mas ao poucos vamos percebendo que ela possui mais do que um coração bom e bonito. Nossa Lady é doce, amorosa, gentil, solidária e com um senso de retidão que não via em uma personagem há algum tempo. É delicioso acompanhar suas descobertas sensoriais e amorosas. E é ainda mais delicioso ver como ela mostra o que quer e se faz entender. Mick não poderia encontrar uma mulher que o completasse melhor.
Kip, o noivo de Aslyn, foi uma pequena desilusão como antagonista. Não temos um vilão nem alguém que firmemente impeça as coisas acontecerem na história, mas como ponto de conflito Kip é o personagem que deveria colocar pontos que fizesse com que fosse difícil florescer o amor entre Aslyn e Mick. O que ocorre, no entanto, é exatamente o contrário - tudo o que ele faz e fala, além de ser irritante, só empurra Aslyn para o lado de Mick. Eu esperava mais de alguém que pretendia se casar com a moça que conhece desde sempre.
Heath criou cenas extremamente bonitas ao longo da narrativa que foram me prendendo mais e mais, a ponto de não querer desgrudar do livro para descobrir como o casal conseguiria ficar junto no final. Sua reviravolta perto do final trouxe uma informação que jamais passaria pela minha cabeça e que foi, de longe, a melhor explicação para o enredo - e muito melhor do que todas as possibilidades que criei na minha cabeça enquanto lia. Sua fluência de escrita e narrativa são pontos altos que também devem ser mencionados - sem furos, sem perdas de ritmo, sem cenas demasiadamente longas nem curtas, sem diálogos que não enriquecessem a trama. Posso dizer que estava muito satisfeita quando virei a última página e com um calor no coração que é impossível de negar.
Desejo e Escândalo é um livro que me surpreendeu e uma maneira maravilhosa Com personagens calorosos, cenas e diálogos bonitos, detalhes importantes e uma descoberta num ponto crucial da trama, não tenho nem palavras melhores para descrever a felicidade que senti por poder ler esta história. Agora me resta reler a história de Aslyn e Mick quando sentir saudade da doçura que encontrei aqui - e esperar para descobrir o que as histórias dos irmãos e irmãs de Mick guardam.
Quando li a sinopse desta história, fiquei intrigada com a forma como a autora iria lidar com a questão da “escrita por encomenda” de uma celebridade do Instagram e conforme os capítulos foram passando, me vi completamente envolvida não só na problemática do processo de escrita, mas em todo o contexto dos personagens. E, deixe-me te dizer, esta foi uma leitura e tanto.
Comecei a ler Professor Feelgood sem saber exatamente o que esperar porque não li o primeiro volume de Masters of Love, Sr. Romance - irei corrigir isso nos próximos dias porque não consegui me segurar e passei na livraria. Mas por serem histórias praticamente independentes, apesar dos spoilers leves sobre o final do primeiro volume (que, sendo sincera, não eram bem spoilers), não tive nenhum problema em me divertir e me envolver com a trama de Asha e Jacob.
Temos aqui, então, a história de Asha Tate, uma assistente editorial que para conseguir ser promovida precisa encontrar o novo best-seller que irá salvar a editora em que trabalha. Ela vê sua chance chegar quando tem a ideia de convidar um homem, autointitulado Professor Feelgood, que acompanha no Instagram a publicar um livro - com base em seus milhões de seguidores e na profundidade das palavras de seus poemas e imagens, ela sabe que qualquer coisa que ele publicasse seria um sucesso. A partir disso acompanhamos os dois, Asha e Jake, o Professor Feelgood, tentando trabalhar na escrita de um livro e tateando ao redor de seus problemas do passado - porque é lógico que o Professor seria o ex-melhor amigo dela (quem não adora esse tipo de drama, não é mesmo?).
Asha é uma personagem muito interessante e complexa - e se você já leu Mr. Romance, sabe que ela é irmã de Eden, a protagonista do volume anterior. Acompanhar seu ponto de vista é simplesmente uma delícia porque ela é uma personagem com quem podemos nos relaciona/ver completamente. Ela é uma profissional dedicada e com humor afiado que precisa lidar com os avanços indesejados de um colega de trabalho; é uma irmã e amiga muito boa e presente. Mas por uma série de questões, ela não consegue se envolver fisicamente com seus namorados e se sente frustrada e quebrada por isso - e a autora conseguir tratar deste tema de forma tão precisa e real me deixou extremamente satisfeita porque é algo pelo qual muitas mulheres passam sem entender o por quê.
Venha pra mamãe, Professor Músculos do Pôrno Literário. Deixe-me desfrutar da sua genialidade. (p. 33)
Olhando esse baú de palavras, me sinto como um maconheiro que acabou de achar um estoque inesperado e gigante do melhor haxixe. (p. 178)
Você não deveria ter que lutar por amor, Asha. Esse é todo o ponto. Se duas pessoas se amam, não deveria existir nada que as mantivesse separadas. Mas isso só funciona se as duas se sentem da mesma forma, ao mesmo tempo. E não importa quão romântica você seja, você precisa admitir que as chances de isso acontecer são raras. (p. 212)
Se você já tivesse lido um livro de romance, Devin, saberia que há muito mais neles do que só erotismo. Eles empoderam e inspiram as mulheres. Eles confortam e, sim, às vezes excitam. Não consigo acreditar que você tenha tantos preconceitos a respeito de um gênero inteiro, especialmente considerando que esses “romances ruins” são o que mantêm essa editora funcionando. Ano após ano, as vendas de romances comprovam que o poder de compra das mulheres é... (p. 24)
Existe um ditado que diz que o amor é só uma amizade que pegou fogo, e ele não podia ser mais verdadeiro. (p. 296)
Amigos para a vida traz a história de Francis, um garoto que sofre bullying na escola e que, num dia qualquer, conhece Jessica, uma fantasma que muda sua vida e abre um caminho de possibilidades para ele fazer novas amizades - com Andi e Roland. É uma narrativa sensível que consegue explorar temas sérios como bullying, depressão e suicídio com leveza através da amizade e celebração das diferenças de cada um dos personagens.
Alguns autores conseguem trabalhar a linguagem em uma história de uma forma que faz com que o leitor esqueça completamente de que está em um lugar que não o da narrativa, este é o caso de Andrew Norriss. Me senti dragada ao texto e muitas vezes perdi completamente a noção de tempo e lugar (o que me fez chegar atrasada em várias aulas) - e isso é uma coisa boa, porque é um sinal claro de que sua história funciona para o leitor (ou seja, faz com que ele acredite, seja imerso no universo criado).
Antes de continuar a falar sobre esta história, é preciso lembrar de um ponto muito importante: Amigos para a vida é voltado para o público jovem, para os adolescentes em formação, por isso suas 201 páginas possuem fonte com tamanho confortável e bom espaçamento para a leitura. E isso faz com que o ritmo de leitura de uma leitora mais velha, como eu, seja muito mais rápido em comparação com outros títulos. Mas não se engane, ser voltado para adolescentes não impede a história de ser profunda e relevante, pelo contrário, só deixa ainda mais a mostra o quão “naturalizados” certos comportamentos estão e como isso é ainda mais prejudicial a quem está em uma das duas pontas.
Temos então personagens que acreditam não se encaixar em nenhum lugar e que acabaram por se acostumar a ficarem sozinhos, isolados pelas outras pessoas [na escola] por serem “diferentes” . E este é o principal ponto que me marcou na história. Enquanto termos a improvável amizade entre um garoto e uma fantasma é o que chama atenção no primeiro momento, é a forma como essa amizade (que vai se expandir a outras pessoas) mostra que se encaixar [em qualquer uma das categorias que tendemos a criar nas escolas, trabalho, etc.] não é o que deveria nos definir. A graça em ser humano é pode ser diferente de todos os outros seres humanos. E até mesmo sendo diferente temos pontos em comum com muitos outros indivíduos.
Todos os temas que Norriss lida - vale relembrar alguns muito importantes (e interligados), como suicídio e bullying - vão guiar o leitor para uma ideia clara: está tudo bem e ser diferente. E como ele faz isso: apresentando personagens que “fogem da normalidade” por causa de sua aparência, seus gostos e interesses, sua forma de se portar - que são as pessoas que mais sofrem durante a adolescência (porque a escola é brutal e todos nós sabemos/passamos por isso) -, mas que encontram na amizade uma mudança de rumo.
Eu acho que ficou claro que gostei muito da leitura e da fluência e leveza da narrativa, então vou encerrar este texto por aqui antes que não consiga me controlar e escreva algum spoiler. Preciso deixar registrado, no entanto, que este livro consegue ser ainda maior do que foi proposto por conseguir mostrar o que acontece com tantos adolescentes e jovens pelo mundo sem tornar a trama pesada e desesperançosa. Resumindo: Amigos para a vida é uma história terna, bonita e com uma mensagem importante que merece ser lido por leitores de todas as idades.
Enquanto lia este segundo volume de Para nova York, com amor descobri que estou me acostumando com duas coisas: a escrever pôr do sol sem hífen e a me deixar levar pelas palavras de Morgan. Não consigo me lembrar de ter lido alguma história dessa autora antes de Amor em Manhattan, mas, ainda que tivesse lido (e provavelmente li e não consigo ligar o livro à autora), sua forma de envolver o leitor ainda me surpreenderia – porque cada nova história parece a primeira.
Em Pôr do Sol no Central Park temos a história de Frankie Cole, que junto com Eva é a melhor amiga de Paige (protagonista do livro anterior). Nossa especialista em flores e plantas tem uma queda de longo prazo por Matt, o irmão mais velho de Paige, e um medo enorme de relacionamentos (e de se deixar ver pelo mundo) por conta do divórcio conturbado de seus pais e da sucessão de acontecimentos que se desdobraram a partir do evento. O problema da história gira, então, em Matt tentando fazer com que seu laço de confiança seja ainda mais forte com Frankie para que ela possa se ver livre do medo e dar uma chance ao relacionamento amoroso entre os dois.
O ritmo deste volume é completamente diferente da trama anterior, o que é interessante de se acompanhar. Praticamente completamente voltado às questões de Frankie, o passo da narrativa acompanha o vagar manso da construção da coragem da personagem em perceber que nem tudo era o que ela pensava que fosse. Ao contrário do anterior, neste volume os primeiros capítulos demandam mais tempo de leitura – por irem mais devagar, esses capítulos me deram um pouco de trabalho para serem superados. Obviamente muita coisa acontece, desde o começo, no decorrer da trama e temos detalhes importantes que vão se juntando e diálogos interessantes que são essenciais para que entendamos os medos e travas da personagem.
Este ritmo um pouco mais lento me fez dividir a leitura em dois momentos: antes e depois da página 187. Por que? Porque o primeiro beijo entre Frankie e Matt acontece na página 187 (pouco depois da metade das 365 páginas do livro) e com a iniciativa dela. Este é um momento importante do enredo. É a partir desse beijo que a trama ganha um novo rumo. Se antes o ritmo parecia caminhar a passos pequenos, após o beijo a trama engata a passos largos – as coisas começam a mudar em um espaço de dias razoavelmente curto até chegarmos ao evento final e termos nosso final feliz (que eu não contarei, para manter este texto livre de spoilers, mas que você deve imaginar qual é). Esse é o fôlego que a trama precisava (pois ao meu ver o enredo não se sustentaria se fosse mantido a pequenos avanços) e também é o que garante o selo de “gostei” para este volume.
A construção de Frankie merece um parágrafo para chamar de seu. Um dos melhores pontos deste volume é a atenção que a autora dá ao peso que o passado tem no presente da personagem. Frankie é uma mulher incrível, mas o fato de possuir uma mãe que não se prende a relacionamentos e ficou emocionalmente inconstante em um período significativo de sua adolescência deixou uma marca profunda. Sua fragilidade se esconde atrás de óculos grandes e roupas sérias, seu grande e amoroso coração anseia por cuidado e amor verdadeiro, ainda que não saiba disso. É esse processo de descobrir que ama, é amada e quer amar que vemos aqui. A forma como Morgan mostra a amizade dela com Eva e Paige e como as duas a apoiam e amam é um dos pontos mais bonitos de toda a trama, para além do romance. E o cuidado e empenho de Matt (e sua paciência infinita) são essenciais para que ela se solte e tenha coragem, enfim, de dizer um “eu te amo”.
Alguns outros pontos devem ser mencionados: Matt e Nova York. O irmão da Paige é um exemplo extremamente perfeitinho de homem que toda mãe quer como genro (a minha incluída). Gentil, galante, charmoso e persistente, Matt se mostrou um personagem com muito mais do que o esperado bom-moço trabalhador com músculos incríveis. Morgan consegue fazer com que ele empurre Frankie para que ela expanda seus limites e rompa suas barreiras sem, no entanto, abusar disso. Ele e Garrinhas, sua gatinha “selvagem” que tanto lembrou minha própria gata de estimação, ganharam meu coração em um piscar de olhos. Quanto a construção da representação de Nova York... não há como não sentir o amor da autora pelo lugar, suas descrições são repletas de vida e sentimento. A cidade parece ganhar vida nas páginas do livro e saltar aos nossos olhos. As cenas no Central Park estão entre as minhas preferidas em todo o romance porque nos dão a sensação de realmente estarmos no lugar, vendo o que é contado. Não há dúvidas que o trabalho de descrição é realmente levado a sério aqui.
Como esperado (e ainda bem), pudemos ver um pouco (bem pouco) mais da relação entre Paige e Jake, agora amadurecida e caminhando para uma vida juntos, e me deixa satisfeita saber que os dois estão muito bem. Temos também uma boa dose de pistas sobre o par romântico (Lucas) da próxima protagonista da série, Eva, e tenho muitas expectativas para o que a autora nos reservou no próximo volume – misturar uma romântica nata e incurável com um escritor de histórias de terror parece uma boa receita para um romance interessante.
No geral, Pôr do Sol no Central Park é uma leitura que satisfaz nossa necessidade de amor – seja amor fraternal entre as melhores amigas, seja amor romântico entre o casal. É uma história bem construída, com personagens complexos e uma ambientação que te transporta para cada uma das cenas. A carga emocional das histórias está crescendo conforme a série vai avançando entre os volumes, o que me deixa curiosa e ansiosa para ver o que o próximo nos reserva.
Como sempre, vou manter os spoilers longe do meu texto, mas acho que algumas considerações devem ser feitas. A primeira é sobre a consistência do mundo que Gail Carriger criou, todos os elementos fazem sentido no contexto da história. O leitor consegue acreditar em tudo o que é descrito na trama, consegue se apegar aos personagens e ficar ansioso para saber em qual enrascada a personagem principal acabará envolvida – e quais serão as implicações.
Encontramos Alexia e sua companhia limitada alguns meses depois de seu casamento com Maccon. Nossa querida Lady está lidando bem com seu papel de esposa e sua posição política com a Rainha Vitória. Mas é claro que não podemos esperar calmarias na vida da preternatural e logo vemos que seu jardim está repleto de soldados e ainda há muito mais pela frente, incluindo um marido desaparecido. Isso nos leva a uma viagem realmente interessante e com vários aspectos de steampunk em foco – elementos que eu nunca me aprofundei muito, mas consigo entender o apelo e ver o quão bem funcionam não só nos detalhes da narrativa.
Carriger passa de forma brilhante pela comédia de costumes, ainda que mais dosada neste volume – algumas vezes, seu tom me remeteu ao tom de narrativa que encontramos em autoras como Jane Austen, o que é muito encantador. Alguns personagens, como Ivy e Felicity, a meia-irmã da nossa protagonista, beiram o exagero em certas ocasiões, sendo cansativas e irritantes (Felicity, em especial, não possui o mesmo brilho e balanço da fala mordaz de sua irmã, o que me fez imaginar para quê exatamente ela estava lá, mas esperemos o próximo volume).
Ainda que seja uma tradução, a prosa de Carriger é um ponto que deve ser mencionado. O ritmo com que sua história é conduzida é constante e obviamente construído de forma a fazer o leitor se envolver na trama e gostar – e olha que steampunk nem é o meu gênero literário preferido. A atmosfera criada em conjunto com os diálogos nos mantêm engajados em todo o tempo – isso se deve não só, mas também pela escolha de certas palavras (e aqui vemos que o trabalho de tradução foi incrível) que fazem com que as cenas sejam inteligentes e calorosas (e agradáveis) e que não se limitam a serem capazes de nos fazer sorrir (e rir).
A construção dos personagens também é um ponto a se levar em consideração: os personagens principais nos foram apresentados no volume anterior, mas seu desenvolvimento é contínuo. Alexa é uma daquelas personagens que dá brilho nos olhos do leitor, inteligente, sagaz, segura de si e com uma língua mordaz e aguda (maravilhosa de se acompanhar) capaz de acabar com o ego alheio em dois minutos. Ela obviamente pode ser um exemplo e tanto para leitoras mais novas, mostrando que ser mulher (ainda mais na época em que está contextualizada) não significa ser incapaz, muito pelo contrário.
Como você deve ter percebido, estou me abstendo de falar sobre a história, mas antes de finalizar esta resenha não posso deixar de mencionar que sua reviravolta me pegou de completamente de surpresa, com a guarda baixa. Carriger encaminha a história sem que percebamos o que nos espera e quando dá sua cartada... nos deixa simplesmente sem saber como lidar com o que nos é jogado no colo. Ainda não sei como lidar. Que narrativa, gente, que narrativa!
Resenha postada no blog Doki Doki
Em 13 Segundos acompanhamos a história de Lola, uma adolescente que poderia ser uma das suas amigas do ensino médio, e todos os desdobramentos que o término de seu namoro com Leo, seu primeiro amor, traz para sua vida. Mas sua história é um pouco mais do que isso. As situações pelas quais a personagem passa nos permitem tratar, além das dificuldades de um término de namoro, de relacionamento abusivo, pornografia de vingança, sororidade, base familiar e vulnerabilidade na internet [e mais]. E são nesses temas que irei focar neste texto.
Como leitura, a trama que Bel Rodrigues nos apresenta é bastante fluída. As relações de amizade e romance que seus personagens travam entre si conquistam o leitor logo nos primeiros capítulos. É uma história que consegue ser leve e ao mesmo tempo tratar de temas importantes.
Perdi a conta de quantas vezes escrevi aqui (uma e outra vez) que um dos papéis da literatura é representar a sociedade de seu tempo, então me parece óbvio que eu tenha que repetir isso aqui e acrescentar que é pela observação da representação da nossa sociedade que mais pessoas podem reconhecer comportamentos e atitudes que não são saudáveis em suas vidas (aquela velha história de “a arte imita a vida e a vida imita a arte”), dessa forma, é importante que uma história conte sobre uma adolescente que sente na pele quão longe um outro ser humano pode ir apenas por vingança e o quão importante é que as pessoas ao seu redor tenham consciência de como é errado.
Quando encontramos/conhecemos Lola, seu relacionamento já havia acabado e as aulas estavam recomeçando, de forma que não vemos em primeira mão como foi seu namoro com Leo. As observações de seus amigos e suas memórias sobre comportamentos do menino, no entanto, deixam claro para o leitor que o personagem tinha mais um sentimento de posse do que de real afeição pela garota. Ora, se qualquer pessoa acha que tem o direito de mandar na forma como seu companheiro se veste, fala, posta ou qualquer outra coisa, nós já sabemos que alguma coisa não está certa. Gostei da forma como a autora foi deixando que aos poucos Lola percebesse as matizes de seu ex namorado (aqueles detalhes que antes pareciam não ter importância) e como de forma crescente suas ações [do ex] levaram ao ponto principal da história. O que me leva a falar de pornografia de vingança.
Coincidentemente, neste semestre estou estudando as representações obscenas na literatura e no audiovisual e em um dos artigos teóricos que li, a pornografia de vingança foi listada como mais uma forma de um homem querer mostrar seu poder na vida de uma mulher. >> Parênteses: nós sabemos que não se limita a homens expondo mulheres, temos casos de mulheres expondo homens, mulheres expondo mulheres, homens expondo homens, mas vamos combinar que a maioria é sim de homens que “vazam” vídeos e fotos de ex namoradas porque temos não só o machismo intrínseco nessa atitude como uma série de outras coisas. << É essa demonstração de poder que leva um indivíduo a expor um outro, é a vingança atravessada pelo ciúme e posse. E o que temos aqui? Exatamente isso. Tudo o que vi de Leo me levou a pensar que o estrago que ele quase conseguiu fazer na vida de sua ex namorada foi completamente motivado pelo fato de não poder mais controlar Lola.
Apesar de apenas o terço final da história se dedicar ao desenvolvimento deste tema, a forma como foi tratado me deixou satisfeita por ser feita de forma delicada. Lola teve uma rede de amigos e familiares para lhe apoiar, o que mostrou não só sororidade entre mulheres, mas a noção de certo e errado. As amigas de Lola tiveram um papel importante na trama, Mel, Anna e Ariel são responsáveis não só por cenas e diálogos engraçados, mas por ações determinantes no antes e no depois. Em nenhum momento elas deixam de apoiar a amiga, em nenhum momento elas não deixam de reafirmar que Lola não tem culpa e que Leo é um babaca. Seus amigos homens também possuem papel na rede de apoio – Bruno, Vini, Diego e John são o exemplo de que nem todo garoto é um ser desprezível. Esse apoio é vital para Lola. Assim como o apoio de sua mãe e irmãzinha linda – elas são o centro do mundo da personagem. A base familiar dela é um dos núcleos mais bonitos do enredo, sua relação com a irmã adotada é de aquecer o coração de tão bonita e seu relacionamento tão confortável e baseado em comunicação com a mãe é um exemplo do que muitas filhas querem ter em casa. Lola conseguiu ter forças e criar coragem para levantar a cabeça e seguir em frente porque possuía diversas pessoas ao seu lado – o que toda adolescente deveria ter.
Vou abrir um parênteses aqui para falar de representação. Bel conseguiu trazer uma série de outras questões nas linhas de sua trama – personagens LGBTQ+, como Anna, Ariel e Bruno, adoção de crianças já crescidas, Nina... – que deixam a narrativa ainda mais real. Ela não trata do assunto como se fosse uma coisa do outro mundo – justamente porque não é – nem faz um alarde imenso para chamar atenção para esses pontos da trama. Eles estão ali, são bem retratados, e fico feliz por isso.
Meu medo não era que muitas pessoas me vissem cantando, mas sim a vulnerabilidade que a internet criava, o ódio que incitava, pessoas loucas cismando comigo, opiniões não solicitadas, xingamentos gratuitos.